A difícil vida dos artilheiros

Kléber Pereira é daqueles atacantes que desperta no torcedor amor e ódio com a mesma facilidade, de acordo com a situação. Desde que chegou ao Santos, em agosto de 2007, ele é sempre o maior artilheiro da equipe, no entanto, já passou por três períodos de jejum na Vila Belmiro, irritando os santistas e fazendo com que carregasse nas costas o peso pelo mau desempenho do time.

Ficou oito jogos sem marcar no Brasileirão de 2007; no Paulistão deste ano, só foi às redes na sétima rodada, em uma partida contra o Marília. Nesse Brasileirão, foram de novo oito pelejas de agonia, sem ver a cor do gol.

Mesmo assim, é o artilheiro da equipe na temporada e do Brasileirão com uma excepcional média de 2 gols a cada três jogos. Já anotou 50 gols pelo Peixe em 74 partidas e está a 14 de entrar na tábua dos 30 maiores artilheiros do clube, igualando Macedo (que precisou de cinco anos para marcar 64) e do mítico Arnaldo Silveira, autor do primeiro gol do Santos na história e que alcançou a mesma marca atuando entre 1912 e 1921 na Vila.

Mas, segundo meu pai, as atuações de Pereira remetem a um outro atacante que marcou época no Santos. Trata-se de Odair, também conhecido como Odair Titica. Jogador rápido, mas pouco técnico, era um típico marcador de gols. Mas também irritava a torcida ao perder tentos fáceis, a exemplo do atual nove do Santos. Ainda de acordo com narração paterna, certa vez, Carlyle deu uma bola açucarada para o atacante fazer o gol, que acabou perdendo na cara do goleiro rival. Inconformado, o companheiro que lhe deu a assistência sentou no gramado da Vila e socou o chão, lamentando a falta de pontaria do artilheiro.

Odair Titica fez sua estréia no Alvinegro em uma partida realizada em Curitiba, em 1943, e saiu do Santos nove anos depois, em 1952, indo para o Palmeiras. Lá, porém, não obteve o mesmo sucesso alcançado na Vila Belmiro, onde se firmou como o décimo-terceiro artilheiro da história do Peixe, com 134 gols. Foi convocado várias vezes para a seleção paulista, em uma época que os confrontos entre estados monopolizavam a atenção dos amantes do futebol.

E o Dicionário Santista, de José Roberto Torero, registra uma partida memorável do atacante. Em jogo válido pelo Campeonato Paulista de 1948, o Santos teve pela frente o Comercial de Ribeirão Preto. Saiu na frente, mas logo sofreu o empate. Outro gol, novo empate. E assim foi até o final, quando, após o placar marcar 4 a 4, Odair fez o tento de desempate que deu a vitória ao clube santista. Ele fez os cinco gols peixeiros da partida. E mesmo assim era contestado. Como sofrem os artilheiros…

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