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Por que Sampaoli incomodou tanto Levir Culpi?

Declarações de ex-técnico do Atlético-MG sobre treinador argentino mostram como o futebol brasileiro se acomodou

A participação de Levir Culpi no programa Bem Amigos!, da Sportv, repercutiu e segue repercutindo nas redes sociais e em programas esportivos. “Tenho uma convicção sobre seleção, sei quem vai ser o próximo técnico. Eu tenho certeza, vai ser o Sampaoli. Porque ele foi treinar de bicicleta, tem tatuagens e o mais importante: é argentino. Escuta o que eu estou falando. Este é o Brasil”, disse, questionando, de forma irônica na sequência, se o Brasil teria algo a aprender com técnicos estrangeiros.

Não é a primeira vez que um treinador brasileiro reage mal a colegas de profissão vindos de fora. Em outras ocasiões houve a mesma reação, mas parece que dessa vez o incômodo é um pouco maior. Não basta, não apenas para técnicos mas também para alguns jornalistas, que o time de Jorge Sampaoli, o Santos, perca. É preciso que jogue mal. Trata-se não só da figura do argentino, mas de sua ideia de jogo.

Um pouco desses sintomas puderam ser vistos no decorrer da partida entre Grêmio e Fluminense. Quando os gaúchos venciam por 3 a 0, choveram ironias a respeito da forma de jogar proposta por Fernando Diniz, comandante do Tricolor do Rio (ainda que a proposta de Renato Portaluppi não seja também defensiva, como a maioria das equipes da Série A e abaixo). E “especialistas” que pouco ou quase nada acompanharam da carreira de Diniz mas se fartam de critica-lo, tiveram que engolir a seco a virada da equipe carioca.

Aliás, sobre Diniz: poucas vezes vi uma equipe se impor contra o Santos na Vila Belmiro como o Audax na segunda partida da final do campeonato paulista de 2016. À época, o time goleou por 4 a 1 o São Paulo nas quartas de final e eliminou o Corinthians nas semis. Isso com uma equipe que tinha poucos valores individuais e jogadores que não conseguiram grandes êxitos em outros clubes, o que só enaltece mais o trabalho do treinador. Mas nada disso vale na hora de analisar sua performance.

Voltando a Sampaoli. Alguns motivos pelos quais o que faz à frente do Santos chama a atenção.

Expectativa duvidosa – é só verificar o que saiu na imprensa e nas redes sociais à época da contratação de Sampaoli para ver que muitos apostavam no fracasso do treinador. A referência era o desempenho da Argentina na Copa, mais uma vez ignorando-se toda a trajetória de fracasso no mesmo cargo de seus antecessores e de sucesso do argentino em outros lugares.

Resultados rápidos – dado o estilo de jogo adotado por Sampaoli, nem mesmo o torcedor otimista do Santos esperava que a equipe fosse fazer boas apresentações tão rápido. Mesmo reveses como as partidas contra o Ituano e o Botafogo não foram suficientes para incomodar a torcida santista. Basicamente por dois motivos: primeiro, porque o torcedor gosta do “DNA ofensivo” do clube e reconhece quem tenta jogar para frente; segundo, porque há tempos o time não atuava bem e quase sem contratações a esperança peixeira era pequena.

Variações de jogo e de formações – Sampaoli traz não apenas o rodízio de atletas como também muda a forma de atuar conforme o adversário, embora, na maioria das vezes, privilegie a posse de bola.

Estilo pessoal – o treinador argentino parece sofrer como o torcedor que está na arquibancada, o que cria empatia com quem vibra pelo time. Fora isso, adota, como lembrou Levir, uma vida quase de uma “pessoa comum”, andando de bicicleta pela cidade de Santos, passeando na praia com cachorros, sendo simpático com torcedores e mesmo trazendo garotos que assistiam um treino da equipe em cima da árvore para ver de perto os ídolos.

O conjunto da obra incomoda Levir e diversos técnicos e jornalistas, que não cansam de “passar recibo” esperando (e torcendo) pelo ocaso de Smapaoli. O fato é que se trata de uma atitude quase suicida. O futebol brasileiro, antes admirado lá fora, hoje está em uma escalão inferior internacionalmente. As equipes brasileiras, cada vez mais desidratadas em termos de talentos, adotam quase sempre um esquema defensivo baseado em contra-ataques para obter resultados.

Pode ser bom eventualmente para um o outro torcedor quando ganha, mas para o espetáculo de forma geral é ruim. Cada vez mais as pessoas se maravilham com jogos de campeonatos de fora, como a Liga dos Campeões, e se decepcionam com as partidas daqui. Torcedores veem, no máximo, jogos de seus times, ignorando outras pelejas porque sabem que dificilmente vão ver bons jogos.

Técnicos brasileiros não conseguem espaço no futebol de primeira linha lá fora, ao contrário dos atletas daqui. Se isso não é um sinal de alerta, não sei o que é. Há jogadores que dizem, de forma aberta, que um dos motivos para jogar no exterior, além da questão financeira, é aprender a “jogar taticamente”. Mesmo quando treinam clubes e seleções de países periféricos no futebol, como China, Catar, Emirados Árabes, Japão etc, muitas vezes também se deparam com o fracasso. Já os argentinos tem trajetória distinta.

Ao invés de adotar posturas xenófobas, talvez técnicos brasileiros devessem ter humildade em reconhecer as limitações daqui (algo que não é culpa apenas deles, mas também de dirigentes, torcedores e mesmo da mídia esportiva) e se inspirar não só na forma de jogar, mas também de se relacionar com o futebol, que deveria ser mais prazeroso do que se tornou. Do contrário, vamos nos acostumar cada vez mais a um papel secundário no futebol mundial. Uma pena para quem tem uma seleção pentacampeã. Mas natural para quem age com tanta empáfia.

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Jonathan Copete, Mauricio Molina, Rincón… Os colombianos que jogam e jogaram no Santos

No total, oito atletas do país vizinho já atuaram pelo Peixe. Relembre os que mais se destacaram

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Jonathan Copete, na matada de peito do lance do primeiro gol do Santos (Ivan Storti/Santos FC)

Com dois gols e três assistências em duas partidas, o colombiano Jonathan Copete, que abriu mão de disputar as semifinais da Libertadores pelo Atletico Nacional de Meddelin para vir ao Santos Futebol Clube, já começa a chamar a atenção. Atuando pelos lados do ataque e também fechando pelo meio, o colombiano camisa 36 pode ser o titular da equipe em breve, já que Gabriel servirá a seleção brasileira que vai disputar as Olimpíadas a partir do dia 18 de julho. Ele é um dos oito jogadores nascidos na Colômbia que já defenderam o manto alvinegro.

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Usuriaga, figurinha não carimbada (Foto: Outros Meninos da Vila)

Talvez o mais polêmico tenha sido o primeiro a jogar na Vila Belmiro, em 1996. Albeiro Palomo Usuriaga protagonizou um episódio que quase custou perda de cinco pontos para o Peixe no Brasileiro daquele ano. O atacante chegou a marcar contra o Alvinegro na vitória por 4 a 0, em 1994, do Independiente de Avellaneda, na Argentina, peleja válida pela Supercopa da Libertadores da América. Em 1996, estava atuando pelo Barcelona de Guayaquil, do Equador, e aí começa o imbróglio.

Os direitos do atleta ainda pertenciam ao clube argentino, que o emprestou ao Peixe, segundo consta, sem cobrar pela transação. Mas, ao que tudo indica, os portenhos mudaram de ideia e seguraram a documentação que sacramentava a transferência do jogador. Mesmo assim, a CBF liberou a carteira do jogador, que foi escalado para disputar uma partida contra o Fluminense, pelo Brasileiro, no Ibirapuera. Vitória alvinegra por 1 a 0, gol de Anderson Lima.

Ao saber da falta de documentação, o Fluminense foi ao Tapetão pedir os pontos da partida, mas acabou perdendo. Temeroso, o Peixe, que havia escalado o atleta antes em um amistoso contra a Inter de Limeira, na qual o colombiano fez um gol, não mais colocou o jogador em campo. Ele acabou devolvido ao Independiente e, em 2004, foi assassinado a tiros aos 37 anos, em Cali.

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Dodô e Aritizábal no Santos

Dois anos depois, Victor Hugo Aristizábal Posada, ou simplesmente Aristizábal, vestiria a camisa santista. Emprestado pelo São Paulo, estreou no Brasileiro de 1998, em um duelo contra o Palmeiras, em agosto, entrando no lugar de Alessandro Cambalhota. Quando começava a se firmar no esquema do técnico Emerson Leão, que tinha Lúcio na ponta esquerda e Viola pelo meio, se contundiu gravemente no joelho em partida contra o Guarani no Brinco de Ouro e ficou seis meses fora.

Ao retornar, não conseguiu muitas chances com Leão e nem com seu sucessor, Paulo Autuori, sendo devolvido ao Morumbi no final de 1999. Fez 23 partidas pelo Peixe, anotando seis gols em sua passagem. Mais à frente, em 2003, faria parte do Cruzeiro campeão do Brasileiro daquele ano, o primeiro da era dos pontos corridos.

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Rincón em campo contra seu ex-time. Quase um ano Vila Belmiro

Talvez o colombiano que tenha chegado com mais pompa tenha sido Freddy Rincón. Assim como Aristizábal, ele fazia parte constante das convocações da seleção de seu país e havia tido grandes atuações pelo Corinthians entre 1997 e aquele ano. Chegou para tirar o clube da Vila Belmiro da fila de títulos, mas não conseguiu.

Sua transferência quase foi “melada” pela Justiça, e só saiu depois de um acordo entre os clubes da Vila Belmiro e do Parque São Jorge. Jogou e marcou na segunda partida da final do Paulistão contra o São Paulo naquele ano, mas saiu ao fim de 2000 depois após reclamar de salários atrasados, indo para o Cruzeiro. Rincón fez 38 partidas pelo Santos e marcou 4 gols.

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Henao em sua pouca saudosa passagem pelo Santos (Jose Patrici/Reuters)

Já em 2005 uma das contratações mais frustrantes do Peixe. Juan Carlos Henao, goleiro do Once Caldas, campeão da Libertadores de 2004 eliminando o próprio Santos, o São Paulo, e superando o Boca Juniors na finalíssima. Na decisão, brilhou a estrela do arqueiro, que defendeu as cobranças de Cascini e Cangele na disputa por pênaltis.

Henao chegou no início do ano e a justificativa era que o clube precisava de um arqueiro experiente para a Libertadores. Mas o colombiano ficou diversas vezes na reserva de Mauro, campeão brasileiro de 2004 pelo Alvinegro, e não se firmou, saindo da Vila ainda em 2005, após 13 partidas disputadas.

Em 2008, a parceria da gestão Marcelo Teixeira com a DIS anunciava grandes reforços, que, na prática, nunca vieram. Surgiram nomes como Michael Jackson Quinõnez, Sebastían Pinto, Mariano Trípodi e o único que, de fato, ganhou o coração do torcedor com sangue, suor e muita técnica: Mauricio Molina.

Molina veio como principal reforço da equipe para a disputa da Libertadores daquele ano, mas nem seu talento salvaram o fraco elenco santista que faria o time brigar para fugir do rebaixamento no Brasileiro. Mas o meia marcou história ao entrar para a galeria dos atletas que fizeram quatro gols com a camisa alvinegra, feito realizado contra o San Jose, da Bolívia. Ganhou o apelido de “Deus que sangra” após permanecer em campo mesmo com o nariz quebrado em partida contra o América do México e também ficou marcado por dar lugar a Neymar, em sua estreia como profissional, na partida contra o Oeste, no Pacaembu, disputada pelo Paulista de 2009. Saiu no mesmo ano para a equipe sul-coreana do Seongnam Ilhwa após 79 partidas e 17 gols.

 

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Rentería no Santos: jogou pouco, nos dois sentidos

Wason Rentería chegou em 2011 após atuar pelo Once Caldas, em um time que tinha opções marcantes no ataque como Neymar, Borges e Alan Kardec. Ficou na reserva a maior parte do tempo e saiu no meio de 2012 para o Millionarios, depois de 22 jogos disputados e dois gols marcados. Não deixou saudades.

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Valencia tem contrato com o Santos até o fim de 2016 (Ivan Storti/Santos FC)

Além de Jonathan Copete, o Santos conta com outro colombiano em seu elenco atualmente. Edwin Valencia, volante, chegou ao clube em 2015, contratado em janeiro depois de cinco temporadas atuando pelo Fluminense. Jogou 16 partidas pela equipe, sendo titular na campanha do título paulista de 2015, mas se lesionou no joelho direito atuando pela Colômbia na Copa América.

Valencia voltou a ser relacionado por Dorival Júnior em maio, na partida contra o Galvez-AC, pela Copa do Brasil, e tem feito parte do banco alvinegro, embora sem muito espaço para atuar. Tem contrato até dezembro de 2016.

Resta saber qual a história que Copete escreverá pelo Santos. Pelo início, podemos esperar uma bela trajetória.

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