Arquivo da tag: campeonato paulista 2016

Cinco números e dados sobre o 22º título paulista do Santos

Passado o calor do triunfo do Peixe no estadual mais importante do país em 2016, vamos a algumas considerações e estatísticas sobre a conquista alvinegra

1 – Sufoco, mas nem tanto

Sim, o Santos não jogou da sua forma habitual. Que tem sido, aliás, muito similar à forma do Audax atuar. No entanto, foi uma escolha, em sua maior parte, consciente. Dorival Júnior viu o modo com que São Paulo e Corinthians foram eliminados no Paulista pela equipe de Osasco e sabia que os comandados de Fernando Diniz, o conjunto mais entrosado do torneio e talvez do Brasil hoje, gosta de ser acuado em seu próprio campo para encontrar espaços na transição para o ataque.

A opção de Dorival foi alternar a marcação, ora subindo, ora marcando atrás da linha da bola. O Santos ocupou bem os espaços defensivos, mas entregou a posse de bola para o Audax. Apostou na força de seu contra-ataque, que não funcionou durante boa parte do primeiro tempo, situação que se tornou pior com a contusão de Lucas Lima. Mas, quando foi encaixado, resultou no gol santista.

No segundo tempo, os visitantes continuaram com a posse de bola, mas o Peixe passou a levar mais perigo ao gol rival. Se eles acertaram a trave duas vezes, foi o Peixe que teve um gol injustamente anulado, além da maior chance da partida com Ronaldo Mendes. Nos 90 minutos, Vanderlei fez uma defesa mais complicada, de resto, quase não foi solicitado. Não estamos acostumados a ver o Santos atuar assim, e é lógico que isso traz nervosismo. Mas não foi o amplo domínio que a mídia quis vender.

2 – Decide quem está acostumado a decidir

O Audax tem conjunto, o Santos tem menos, hoje, mas tem jogadores decisivos. Quando se olham os número do Footstats, por exemplo, vê-se o tamanho do prejuízo para o ataque do Santos com a saída de Lucas Lima. Ele foi o que mais deu assistências para finalizações no Paulista, 46, simplesmente 13 à frente do segundo colocado, Tche Tche.

Mas os donos da casa tinham Ricardo Oliveira. Na chance que teve, o artilheiro, acostumado a marcar em clássicos e jogos importantes, guardou.

Ricardo Oliveira comemora gol na final do Paulista 2016

Ah, é Oliveira! (Foto: Ivan Storti/ Santos FC)

3 – Caiu na Vila…

O Santos mostrou mais uma vez a força da sua casa. São 28 partidas de invencibilidade na Vila Belmiro, onde não perde, no campeonato paulista, desde 2011. No total, 24 vitórias e 4 empates. A Vila será, mais uma vez, essencial para a equipe no campeonato brasileiro. É preciso aprimorar a forma de jogar fora de casa.

4 – O time que fez mais gols

Se desta vez o Alvinegro não teve o artilheiro da competição, terminou como melhor ataque da competição. Foram 34 gols, contra 32 de Corinthians e Audax.

5 – Campeão do século 21

No início do século, o Peixe tinha 15 campeonatos paulistas e era o quarto entre os grandes no ranking de conquistas do estadual. Agora, tem 22, tendo superado o São Paulo e empatado com o Palmeiras. Em 2016, alcançou a oitava final consecutiva, igualando marca da Era Pelé.

Nestes 15 anos do século 21, o Alvinegro conseguiu uma Libertadores, dois Brasileiros, uma Copa do Brasil, sete Paulistas e uma Recopa. Não é pouca coisa.

1 comentário

Arquivado em futebol, História, Santos, Século 21

Oito comentários sobre a oitava final seguida do Santos no campeonato paulista

Vanderlei e Prass

1 – O futebol não contempla a justiça. Mas dessa vez, ela apareceu

Na cena em que o xerife pede por sua vida contra o pistoleiro William Munny em Os Imperdoáveis, ele diz não merecer morrer, no que o matador responde, de forma fria: “merecer não tem nada a ver com isso”.

Assim é a vida. Assim é o futebol.

O Santos não “merecia” ser eliminado pelo que jogou. Teve 59,6% da posse de bola. Dominou a maior parte do tempo. Apanhou muito mais do que bateu. Mas tomou o empate em dois lances de desatenção. Causados um pouco pelo salto alto, outro tanto pelo cansaço. Mas a justiça, pelo menos uma vez, se fez valer nos pênaltis.

2 – Você pode não gostar do Dorival. Só que não foi por causa dele o empate

Os dois tentos do Palmeiras em um minuto foram um misto daquilo que o futebol apresenta. O imprevisível, o Sobrenatural de Almeida, a desatenção, o salto alto, as falhas individuais, a pressão de adversário que está perdendo, a sorte rival, o azar. Futebol tem disso, você que assiste já devia saber. E procurar o culpado sempre naquele que a gente não gosta é normal, faz até com que nos sintamos bem. Só não é verdade.

3 – O Santos tem que jogar o tempo todo como jogou na maior parte do primeiro tempo

Seria lindo que o time fizesse isso. Mas fisicamente é impossível. Não dá, por conta da questão do condicionamento, pra marcar o tempo todo no campo adversário e, ao mesmo tempo manter a concentração — aquela que desaparece quando estamos cansados. Esse sistema é alternado durante a partida por qualquer um que o aplique, e é preciso que o time tenha inteligência pra saber quando modificar o ritmo.

Daí, valem também as jogadas ensaiadas e o elenco para repor as peças. Isso o Santos não tem, mas Dorival tem trabalhado para adaptar jogadores a determinadas funções. A integração com as equipes de base pode ser fundamental no futuro próximo.

4 – A base não é solução pra tudo. Mas é fundamental. E a nossa marca

Poucos repararam, mas o Santos chega à sua oitava final consecutiva no campeonato paulista com seu quarto presidente diferente.  Em 2009, era Marcelo Teixeira. De 2010 a 2013, Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro; 2014, Odílio Rodrigues; 2015 e 2016, Modesto Roma Júnior.

Isso acontece porque o campeonato paulista se decide, na prática, em poucas partidas, as da reta final. É quando você precisa de uma casa que te dê a vantagem, e nisso a Vila Belmiro tem sido decisiva, e jogadores que decidam. Os jovens têm feito esse papel em diferentes contextos. Porque, independentemente da gestão, as divisões de base do clube são fortes, e tem uma marca que transcende. Qualquer pai que goste de fato do filho, quer vê-lo brilhar na Vila. Porque sabe que ali ele não vai ter apenas a melhor estrutura como também contará com o apoio da torcida, que adora as pratas da casa.

5 – Gabriel, menino de ouro

O atacante Gabriel, Gabigol, tem 19 anos. É pouco mais de sete meses mais velho que o seu homônimo do Palmeiras, o Jesus, que já foi comparado com Neymar. Leviandade à parte, não é possível comparar um com o outro.

O garoto santista brilhou hoje. E já foi decisivo em partidas como os duelos da Copa do Brasil contra o Corinthians e o São Paulo. Na primeira final contra o Palmeiras pela mesma competição, perdeu um pênalti, não desanimou e fez o tento da nossa vitória. Oscila, como qualquer jogador, jovem ou veternado, e toda vez que atua mal chovem explicações sobre o porquê.

Mas ele é Gabriel, não é Pelé. Ninguém nunca será. Mas ele é muito bom sendo quem é. E ainda vamos nos alegrar demais com o que ele nos dará.

6- Cuca e a arbitragem

Dizem que o peixe morre pela boca. Mas também falam que o porco morre berrando. Cuca, como usual, pouco analisou a derrota da sua equipe, mas preferiu falar — sem ser perguntado — a respeito da sua expulsão após comemorar o segundo gol do Palmeiras entrando no campo. O quarto árbitro avisou o principal, que determinou a exclusão do comandante do jogo.

Daí vem o “craque” Neto dizer que a exclusão do treinador influenciou para a derrota de seu time na decisão por pênaltis. Claro, se fosse ele, os jogadores estariam mais confiantes… Devo lembrar ao comentarista que, em 2002, quando o Santos enfrentava o Corinthians na final do Brasileiro de 2002, o seu técnico Emerson Leão foi expulso de campo. E a quipe, mesmo assim, virou contra os adversários e garantiu um título após 18 anos de jejum. Com um time que tinha vários moleques.

Mas, quanto à arbitragem, se alguém pode reclamar são os donos da casa. Uma bola na mão, na melhor das hipóteses, que poderia ser pênalti, e um chute no rosto de Gustavo Henrique, infração evidente dentro da área. Além de uma jogada de expulsão de Gabriel Jesus que nem falta foi assinalada. Menos, Cuca, por conta desse tipo de atitude que suas trajetórias foram encurtadas em diversos lugares, inclusive no Santos.

7 – Campeonato Paulista não vale nada. Ah, é?

Sempre vai ter um rival que vai dizer que Paulista não vale nada. Pode valer menos que Libertadores, Brasileiro ou Copa do Brasil, mas… nós ganhamos esses torneios nos últimos anos, não? E nossos rivais?

Tem um que não ganha desde 2005; outro, que venceu somente uma vez no século 21, ou uma nos últimos vinte anos. Se você quiser falar pra um dos torcedores adversários específicos, pode falar que, nessas oito finais consecutivas em que o Peixe chegou, metade delas foi contra times pequenos; outra metade foi contra equipes ditas grandes. O São Paulo não está em nenhum desses dois grupos…

8 – Sobre Vanderlei e o outro goleiro

Antes do duelo por pênaltis, já se dizia em uma emissora de rádio que o Palmeiras gostaria de levar a decisão para as penalidades porque Fernadno Prass era um “especialista”. Ele acreditou.

Mas poucos falam ou falavam de Vanderlei. O goleiro é discreto. Não faz malabarismos porque, em geral, está bem colocado. Se falha, não se enerva. É bom em todos os fundamentos, inclusive na reposição de bola, algo pouco notado. Mostrou ainda hoje que é bom também para decidir.

Se queriam uma narrativa na qual Prass fosse o herói, o modesto Vanderlei derrubou o soberbo Prass. Que julgou ser o herói quando pegou o pênalti de Lucas Lima, alvo preferencial dos palmeirense de dentro e de fora do gramado. Mas sucumbiu diante do arqueiro alvinegro, que já havia pego duas penalidades. A jornada de herói foi nossa.

 

Deixe um comentário

Arquivado em futebol, História, Santos, Século 21, Sem Categoria

Em tarde de gols perdidos por Gabriel, Palmeiras e Santos ficam no 0 a 0

Palmeiras e Santos ficaram no 0 a 0 no clássico disputado no Allianz Park, em jogo do campeonato paulista. Mesmo estando longe do ideal, o Alvinegro esteve mais perto de vencer, principalmente no segundo tempo, e Gabriel hoje teve um dia infeliz, desperdiçando quatro grandes chances de gol.

Os dois times entraram com esquemas diferentes dos adotados nos últimos meses. Marcelo Oliveira abriu mão do seu 4-2-3-1, assim como fez na peleja contra o River Plate-URU no final de semana. Já Dorival Júnior, que não tem um substituto confiável para fazer as vezes de Marquinhos Gabriel ou Geuvânio, colocou o meia Serginho alterando o esquema alvinegro para um 4-4-2.

Com o jogo bastante concentrado pelo meio, o Peixe criou pouco na etapa inicial, principalmente na primeira meia hora de partida. Os ataques se davam principalmente pelo lado direito, onde atuou Gabriel, e tanto Lucas Lima quanto Serginho fizeram muito pouco. O garoto ao menos conseguiu sofrer algumas faltas, ainda que não tenham sido aproveitadas pelo Santos. O ponto é que os donos da casa também pouco ameaçaram o gol de Vanderlei e só nas falhas de posicionamento de ambas as zagas que o torcedor pode ter algum traço de emoção.

Ricarod Oliveira

Ricardo Oliveira mais brigou do que jogou contra o Palmeiras (Reprodução)

No segundo tempo, o Santos voltou mais agressivo, buscando as jogadas de velocidade que são a marca registrada da equipe. O Palmeiras também passou a dar mais espaço, indo mais à frente e não recompondo da mesma forma que fazia na etapa inicial. Antes dos 15, entraram em campo Gabriel Jesus, substituindo Matheus Salles, e Patito Rodríguez, em lugar de Serginho. Assim, o Santos voltava ao seu esquema tradicional.

Aos 24, Léo Cittadini entrou no lugar de Thiago Maia, com Renato passando a fazer a cabeça de área e, na sequência, Arouca foi a campo substituindo Thiago Santos. Dorival mexeu pela última vez aos 30. Ricardo Oliveira, instável emocionalmente durante quase todo o jogo, saiu para a entrada do camaronês Joel. O centroavante mostrou que, a despeito de toda experiência, sentiu a partida contra o Palmeiras, mostrando um excesso de vontade normal para garotos, mas estranho a atletas veteranos.

Logo após a entrada de Joel, o treinador palmeirense também fez sua última substituição, com Régis substituindo Robinho. E o camaronês conseguiu um belo lance pelo lado direito, servindo Gabriel, que perdeu sua terceira oportunidade de gol no jogo. Dos três que entraram em campo, aliás, ele foi o único que mostrou alguma efetividade. Merecia mais chances do que vem tendo. Ele também participou da trama ofensiva que resultou no quarto gol perdido por Gabigol, a dois minutos do apito final.

O Santos ainda está muito longe do que fez em 2015, tanto por conta da condição física quanto pelas perdas que não foram repostas de Geuvânio e Marquinhos Gabriel, além de David Braz lesionado. Mesmo assim, esteve muito mais perto de vencer do que os donos da casa. Um empate com gosto de derrota.

Confira os melhores momentos de Palmeiras e Santos:

Deixe um comentário

Arquivado em futebol, Santos, Século 21

Novorizontino 3 X 3 Santos – sem motivo pra desespero

O empate conquistado pelo Peixe fora de casa na noite deste sábado virou motivo de preocupação para muito torcedor. A defesa teve um desempenho horrível e o ataque desperdiçou chances preciosas, principalmente no primeiro tempo, que poderiam ter dado uma vantagem mais confortável ao Peixe. Mas começo de temporada sempre é assim e a diferença de condicionamento físico entre equipes que fizeram uma extensa pré-temporada e os grandes que jogaram até meados de dezembro pesa bastante nesse período. Não há por que desesperar.

O que chamou a atenção ontem foi a variação tática feita por Dorival Júnior. Na primeira etapa, um 4-3-3 no qual os atacantes que jogavam pelos lados do campo – Patito Rodríguez, no lugar de Paulinho, resfriado, e Gabriel – várias vezes conseguiam ficar no mano a mano com os laterais adversários. Isso porque o Novorizontino, do técnico Guilherme (aquele que viu Fábio Costa defender sua cabeçada no segundo jogo da final entre Corinthians e Santos, em 2002) tentava encurtar o campo marcando o Santos mais à frente, o que dava espaço para a armação de contra-ataques do Peixe. Além disso, com Lucas Lima marcado, o Alvinegro jogava pelo meio com as subidas de Thiago Maia e Renato, que várias vezes concentraram as atenções dos marcadores do time do interior. Os laterais do Peixe pouco avançaram e a defesa ficou resguardada das investidas dos donos da casa.

Nesse contexto, na etapa inicial só deu Peixe e o 1 a 0 marcado no final do primeiro tempo por Gabriel ficou pequeno diante da superioridade dos visitantes. Já na etapa final o Novorizontino buscou com mais força o ataque, utilizando principalmente os lados do campo. Chegou ao empate logo, aos 7 minutos, com Pereira, em bola que sobrou na área santista mostrando uma incrível lentidão da defesa (que, lembrem-se, não é só a zaga). Nem o golaço de Lucas Lima cinco minutos depois, com direito a um passeio em meio a quatro marcadores rivais, tirou o ímpeto da equipe do interior, que ainda não venceu em sua volta à primeira divisão.

golaco de Lucas Lima

Lucas Lima marcou um golaço contra o Novorizontino (Ricardo Saibun – Santos FC)

Logo depois de estar novamente à frente do placar, Dorival colocou Vitor Bueno no lugar de Patito, colocando o Santos em um 4-4-2. A lógica era reforçar o meio de campo para buscar o contra-ataque contra um time que ia precisar sair mais ainda para o campo ofensivo. No entanto, Guilherme também mexeu, colocando Fagner no lugar do marcador Deda e Wesley no lugar de Lima. O time passou a jogar com três atacantes, forçando ainda mais as jogadas pelas pontas, com os visitantes preocupando menos com seus avanços do lado esquerdo, já que Vitor Bueno passou a fazer mais a meia do que fazia Patito. Isso liberou o lateral Paulinho, por exemplo, para ir à frente, preocupando a defesa santista.

Jogando melhor, o Novorizontinho chegou ao empate aos 22 e à virada aos 26. Sem muitas opções, Dorival colocou Neto Berola no lugar de Gabriel e Serginho substituindo Thiago Maia. E foi aos 39, em cobrança de falta de Ferraz, que o time escapou da primeira derrota do ano. O tento coroou o esforço da equipe, ainda que o resultado e as oscilações tenham deixado o torcedor com a pulga atrás da orelha. Mas antes de entrar da onda do “Fora Dorival” ou o “manda todo mundo embora”, é preciso considerar alguns fatores.

Primeiro, e talvez o principal a essa altura, seja o já citado condicionamento físico. É normal nas seis primeiras rodadas, pelo menos, os grandes oscilarem por ainda estarem adquirindo a melhor forma, penando contra equipes piores tecnicamente. É o que acontece todos os anos e com quase todos. Foi assim, por exemplo, com aquele outro Santos de Dorival, de 2010, que só engatou após completado o terço inicial da primeira fase.

Ontem, o técnico acabou vacilando ao mudar o esquema de jogo e atrair o Novorizontino, perdendo os lados do campo e expondo a defesa, quando a intenção era justamente protegê-la. Mas, no que diz respeito às sempre criticadas alterações do treinador, é preciso lembrar que, além da falta de opções (alô, diretoria), alguns jogadores parecem estar ainda mais abaixo da sua condição física ideal. Gabriel, por exemplo, sumiu no segundo tempo, e, mesmo sendo obviamente muito melhor que Berola, é compreensível que tenha saído até para que não “estoure” em um jogo menos importante.

É preciso mais paciência. Se o time estivesse estagnado, seria uma coisa, mas tem apresentado variações de jogo interessantes mesmo tendo perdido jogadores que fazem falta no elenco, como Marquinhos Gabriel e Geuvânio, além do contundido David Braz. Dá pra confiar na evolução desse time.

Deixe um comentário

Arquivado em futebol, Santos, Século 21

Santos bate Ponte fora de casa e vence a 1ª no campeonato paulista de 2016

Santos vence Ponte Preta

Ricardo Oliveira comemora o primeiro gol do jogo (Reprodução)

O Santos conseguiu na noite desta quarta-feira algo que pouco aconteceu em 2015: uma vitória fora de casa em peleja válida pela segunda rodada do Paulista de 2016. Há sete anos o Peixe não vencia a Ponte no Moisés Lucarelli e, além do tabu, a vitória convincente por 2 a 0 mostrou que o fantasma de jogar fora de casa pode ser uma página virada na campanha santista em 2016.

Na primeira etapa, o Santos mostrou uma postura bem diferente daquela apresentada em boa parte do Campeonato Brasileiro de 2015 quando atuou fora de casa. Foi uma equipe que marcou o adversário em seu próprio campo, dificultando a saída de bola e saindo com velocidade no contra-ataque. Até aí, algo que o time fazia bastante na Vila Belmiro, mas raramente emplacava longe da praia. Além disso, houve também diferenças pontuais em relação ao que Dorival Júnior treinava no Brasileirão.

Uma diferença notável é que o Peixe jogou ainda mais pelos lados do campo do que fazia meses atrás. Isso porque na saída de trás algumas vezes os zagueiros abriam para os lados para acelerar a transição e também foram mais constantes as trocas de posição entre laterais, volantes e os atacantes pelos lados. Isso ocorreu em períodos curtos da partida, mas a impressão é que o time tem treinado essas variações, que podem ser importantes para o decorrer da temporada.

Mais uma vez, principalmente no tempo inicial, mas também no segundo, o destaque foi Lucas Lima. Ele achou Gabriel no lado esquerdo no lance que originou o primeiro gol do jogo, de Ricardo Oliveira, e sofreu o pênalti que originou o gol de Gabriel, o segundo do Alvinegro na partida e dele no campeonato.  Na etapa final, só foi parado na base da falta, o que acabou carregando a Ponte Preta de cartões amarelos e facilitando a partida para os visitantes, que tinham a vantagem numérica.

Em relação aos desempenhos individuais, Paulinho ainda busca se enquadrar taticamente no esquema de Dorival. É cedo para julgar, mas esforço não falta ao ex-flamenguista. Patito Rodriguez entrou em seu lugar na etapa final e mostrou que pode ser útil como alternativa. Vitor Bueno e Alison também entraram em campo, e mostraram a personalidade usual, ainda que nada de especial, até pelo pouco tempo de jogo.

É importante notar que, mesmo atuando contra um time bastante modificado em relação a 2015 eainda sendo moldadonas mãos de Vinicius Eutropio, o Santos bateu uma equipe da Série A do Campeonato Brasileiro. Com sobras. Mesmo sofrendo algum assédio no segundo tempo, o que é natural pela vantagem e também por ser início de temporada, em nenhum momento deixou de levar perigo ao gol rival. Com a sequência de jogos e o entrosamento nas jogadas pelos lados do campo, repetindo-se as triangulações que já se ensaiaram no embate, o Alvinegro pode fazer uma campanha mais que interessante no Paulista.

 

Deixe um comentário

Arquivado em futebol, Santos, Século 21

O que fica da derrota do Santos na decisão da Copa do Brasil?

Sou “menino da fila”. No período da minha infância e adolescência, anos 80 e 90, o Santos mal chegava em finais e nestas duas décadas houve só um título, o Paulista de 84, relevante. O resto foi sofrimento e tiração de sarro contínua de rivais, ainda mais morando na Baixada, onde para muitos o Peixe é o inimigo número 1.

Mas no século 21 as coisas mudaram e chegar em decisões voltou a ser rotina, como nunca deveria ter deixado de ser para um clube monumental como o Alvinegro Praiano. Alguns dos nosso principais adversários, aliás, passaram a ter uma rotina inversa, com finais se tornando um evento raro para eles. Vencemos várias vezes, e também perdemos algumas. A derrota na final da Copa do Brasil, por um lado, faz parte desse contexto, e não deve nos deixar tão tristes. Por outro, leva a necessárias reflexões.

Em geral, mídia e torcedores justificam as derrotas de três formas, basicamente: 1 – faltou raça, garra; 2 – colocam a culpa em um ou mais jogadores; 3 – quem perdeu o título foi o técnico. Fazendo sempre esse tipo de análise, às vezes não se chega ao fundamental, aquele tal do planejamento, que envolve muitos fatores e é algo muito mais complexo.

Sim, as situações de jogo também devem ser analisadas. Mas é preciso tomar cuidado porque, quando uma equipe joga mal, sempre vai aparecer alguém dizendo que faltou brio. Afinal, é justamente essa a impressão que dá, mesmo que não seja verdade. O Santos não jogou bem ontem, e o Palmeiras, vendo friamente, tampouco. Não dominou de fato os visitantes em quase nenhum momento, mesmo tendo aberto 2 a 0, abusaram dos chutões e da ligação direta, e na base da insistência – e nos erros de um time que sofreu a perda de três atletas no decorrer da partida – chegou à vantagem.

O que dói, obviamente, é saber que o Alvinegro tinha um time titular tecnicamente melhor, e mostrou isso na primeira partida. Venceu por um a zero, perdeu um pênalti, um gol feito (poxa, Nílson…) e inúmeras outras chances de matar o torneio já naquela ocasião. Quando não foi efetivo (e isso, infelizmente, acontece não só conosco, mas com qualquer time), jogou tudo para a peleja da Allianz Arena. E, nesse contexto, era crível acontecer o que aconteceu.

Culpa do Dorival?

Em quase nenhum momento ontem o Santos utilizou a estratégia que o levou até a final da Copa do Brasil: marcação-pressão no campo do adversário, com retomada rápida da bola no meio de campo. O meio e o ataque também tiveram menos mobilidade que nas partidas realizadas durante o período em que Dorival assumiu o Peixe, mas talvez a explicação seja simples: o time não aguentou o desgaste físico da temporada.

“Ah, mas o Palmeiras fez o mesmo número de jogos do Santos.” Não é bem verdade. Além de ter tido uma trajetória mais fácil no início da competição em que o Peixe não consegue eliminar partidas de volta, o Alviverde ficou sem chances reais de entrar no G4 muito antes do Alvinegro. Ou seja, o mau desempenho no Brasileiro acabou “poupando” naturalmente os seus jogadores. Outro ponto é que a equipe de São Paulo não enfrentou o desgaste – físico e também mental, diga-se – de ter de fugir da zona do rebaixamento, o que exigiu muito dos atletas santistas.

Também é preciso considerar que o esquema implantado por Dorival, onde a marcação começa no ataque e os volantes e laterais participam ativamente no campo ofensivo, exige demais dos atletas. Em outros times não é assim, mas foi dessa forma que o Santos aprimorou a parte tática, que não existia no primeiro semestre, e se tornou um time de fato na temporada, e não um “catado”, como aquele que vinha atuando desde o Paulista. Jogar bem exige demais do corpo e da mente, vide as equipes do Corinthians armadas por Tite.

Colocando nessa conta o fato de ter jogadores constantemente convocados para as seleções principal (Lucas Lima e Ricardo Oliveira) e olímpica (Gabriel e Zeca) traz uma carga a mais de desgaste para esses atletas. O resultado de todos esses fatores somados se viu em campo na noite de quarta: o time perdeu três jogadores por lesão e outros, como Renato, chegaram a sentir durante a partida. Era um time esgotado e os exames médicos já deviam mostrar isso. Daí a opção de Dorival pela Copa do Brasil, que dava um título e uma vaga direta à fase de grupos, diferentemente do G4 do Brasileiro. Quase não foi uma opção, mas uma necessidade, lembrando que o time chegou a desperdiçar pontos mesmo com a formação titular, caso do empate com o Flamengo na Vila.

O que se pode questionar, e muito, foi a opção da diretoria de liderar um movimento para adiar a decisão do torneio, inicialmente planejada para os dias 4 e 25 de novembro. Deu mais tempo para o desentrosado Palmeiras e desperdiçou a chance de jogar a primeira partida quando o Peixe estava no auge da forma técnica.

Gabigol do Santos

Gabriel, “recuperado” por Dorival Júnior, pode ter um grande ano de 2016 (Ricardo Saibun/ Santos FC)

E o planejamento do Santos?

Mais do que utilizar o time reserva, parte da derrocada peixeira na reta final do Brasileiro se deveu a não ter jogadores com qualidade para suprir a ausência dos titulares. Nesse aspecto, o Palmeiras, apesar de não ser um time dos sonhos, tinha um elenco mais homogêneo, a exemplo do Cruzeiro de 2013/2014, sofrendo menos com as perdas do que o Alvinegro. Basta ver que dois dos reservas que entraram em campo ontem, Werley e Paulo Ricardo, são jogadores duramente questionados pela torcida.

Assim, o que faltou mesmo foi a montagem de um elenco mais equilibrado e com opções. Dorival Júnior não participou desse processo, “herdou” atletas com os quais provavelmente não gostaria de contar e teve pouquíssimas alternativas. Mais um motivo para poupar os titulares. Foi um planejamento anterior equivocado do clube, que, embora limitado no aspecto financeiro, poderia contar com atletas de nível melhor se tivesse contado com um técnico de fato meses antes do atual assumir.

O problema do Peixe e de quase todos os times no Brasil é que o desempenho do clube depende quase exclusivamente de um técnico. Não há diretores que deem o suporte e a base necessários para quem está no banco trabalhar com foco maior no trabalho de campo, tendo ele que desempenhar diversas outras funções. Se não fosse Dorival, talvez estaríamos na zona intermediária do Brasileiro e já teríamos saído fora da Copa do Brasil no duelo contra o Sport. Sofrer por ter perdido num nível mais alto é muito mais saudável, convenhamos.

Agora é mirar 2016. Perder faz parte do esporte e, como foi para muitos “meninos da fila” como eu, molda o caráter. É preciso mirar mais as ações da diretoria, não só na contratação e manutenção de jogadores, mas também na área financeira, de marketing, captação de receitas, entre outras fundamentais para a sustentabilidade do clube. É exigir mais de quem tem mais poder e apoiar quem entrar em campo. Temos titulares, é preciso mantê-los e elevar a qualidade do banco. O ano que vem promete.

Deixe um comentário

Arquivado em futebol, História, Santos, Século 21