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A história de Carlos Alberto Torres no Santos FC

Alvinegro Praiano foi o time onde capitão do Tri jogou por mais tempo. Conheça algumas passagens curiosas da trajetória do “Capita” na Vila Belmiro

O ex-jogador e ex-técnico Carlos Alberto Torres, falecido em função de um infarto aos 72 anos, no dia 25 de outubro, é tido como o maior lateral direito da história do Santos, e talvez do Brasil, só rivalizando com Djalma Santos. Na Vila Belmiro, foram quase onze anos, entre 1965 e 1975, com 445 partidas disputadas e 40 gols marcados com o manto sagrado. Em 1971, chegou a atuar três meses no Botafogo, mas, lesionado, voltou à Baixada.

Pelo Alvinegro Praiano, foi campeão brasileiro em 1965 e 1968, campeão paulista em 1965, 1967, 1968, 1969 e 1973, da Recopa Sul-americana e Mundial em 1968, do Torneio Rio-São Paulo de 1966 e dos torneios de Nova York em 1966, Triangular de Florença em 1967, de Cuiabá em 1969, Hexagonal do Chile em 1970, Octogonal do Chile e Pentagonal de Buenos Aires em 1969.

Carlos Alberto chegou ao Santos aos 22 anos vindo do Fluminense em 1965, com a torcida tricolor ameaçando depredar a sede do clube em função da saída do atleta. No entanto, em depoimento dado ao projeto Futebol, Memória e Patrimônio: Projeto de constituição de um acervo de entrevistas em História Oral, do CPDOC/FGV (veja aqui), ele revelou que já queria ter vindo ao Peixe anos antes, ainda juvenil.

O lateral chamou a atenção, segundo ele, quando participou de alguns treinos com a seleção brasileira, que concentrava no Hotel Paineiras em Cosme Velho, próximo ao estádio do Fluminense.

Quando faltava algum atleta em um coletivo, o garoto formava com o time reserva. “Quando treinei algumas vezes na seleção para completar a posição da lateral, ou Djalma Santos, ou o Jair não podia participar, alguns jogadores do Santos já haviam indicado o meu nome para eu ir para o Santos, porque o Santos tinha vários jogadores que jogavam na seleção, não é? Se o Fluminense na época tivesse concordado em me liberar, se fosse hoje, por exemplo, que não tem mais o passe, eu seria campeão mundial de interclubes.”

No mesmo depoimento, o “Capita” conta que sua não convocação para ir à Copa do Mundo de 1966 pode ter acontecido justamente pela sua transferência para o Peixe. De acordo com Carlo Alberto, um dirigente da CBD (Confederação Brasileira de Desportos, predecessora da CBF), ligado ao Fluminense, tentou convencê-lo a não ir para o clube da Vila. “E você sabe o que é que aconteceu depois que fui para o Santos? Várias convocações o meu nome não estava, mesmo sendo já naquela época apontado como o melhor da posição no Brasil, mas várias convocações o meu nome não estava. Em 1966 eu fui porque foram quatro de cada posição, acho que não tinha como se justificar a minha não chamada, não é? Aí fui, mas não fui para a Copa do Mundo”, relata.

Partida inesquecível de Carlos Alberto Torres no Santos

Em depoimento dado à Bandeirantes, o Capita conta que, entre os vários jogos marcantes que fez pelo Peixe, o mais memorável para ele foi um confronto contra o Benfica, válido pelo Torneio de Nova York e disputado em 21 de agosto de 1966. Para ele, e também para outros jogadores santistas, foi uma espécie de revanche da Copa do Mundo de 1966, quando Portugal eliminou o Brasil da competição, com uma marcação violenta em Pelé.

“Santos e Benfica. Em 1966, disputamos o Torneio de Nova York. Na Copa, Portugal havia vencido a seleção brasileira, eliminando o nosso time. Eles machucaram o Pelé. Foi uma Copa violenta. Um mês depois, o Santos jogou contra o Benfica, que era base da seleção portuguesa. Foi como se fosse uma desforra. O jogo foi sensacional. Acho que ganhamos de 4 a 0. Nós lavamos a nossa alma. O Santos, naquela época, era o melhor do mundo. A gente respeitava o adversário, mas sabíamos do potencial do nosso time. Tinha o nervosismo natural. A gente sabia da importância do jogo. Foi um jogão, enfrentamos um dos melhores times do mundo.”

Obrigado, capitão, por tudo que fez pelo nosso Santos. Seu nome já está eternizado no coração dos torcedores do Peixe.

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Com gols de Copete e Ricardo Oliveira, Santos bate Fluminense e cola no G3

Time consegue quinta vitória nas últimas seis rodadas e está a dois pontos do Atlético-MG, terceiro no Brasileiro

O Santos jogou bem a maior parte dos 90 minutos da partida contra o Fluminense, nesta quarta-feira à noite, na Vila Belmiro, e derrotou os visitantes por 2 a 1. Com a vitória, o Alvinegro fica cinco pontos à frente do Tricolor carioca, quinto colocado, e a dois do Atlético-MG, terceiro na tabela. Os três primeiros do Brasileirão vão direto para a fase de grupos da Libertadores.

Diferentemente das últimas partidas, o Peixe jogou taticamente bem no primeiro tempo, exercendo uma marcação eficiente na saída de bola do adversário e evitando durante quase todo o tempo inicial as investidas rivais. Só no final da etapa inicial, quando o time deixou de fazer a dita marcação alta que os cariocas ameaçaram.

Mas se o Santos tinha a posse de bola e o domínio do jogo, errava demais no último passe. Sem Lucas Lima, na seleção brasileira, e Vitor Bueno, contundido, a equipe não conseguia, com Vecchio e Jean Mota, penetrar na bem postada defesa do Fluminense. Criou duas oportunidades roubando a bola na intermediária tricolor, mas não conseguiu marcar.

O gol peixeiro aconteceu no começo da etapa final. Aos três minutos, Renato, que estava na lateral direita, cruzou sem marcação, na medida para Copete cabecear firme. Essa foi uma solução encontrada por Dorival Júnior para furar o esquema defensivo de Levir Culpi: enquanto o 8 caiu pela direita, Thiago Maia caiu pela esquerda, com ambos combinando jogadas com os laterais, que por vezes fechavam na diagonal.

Com a vantagem no placar, o Peixe postou para contra-atacar, mas não conseguiu achar os lances mais agudos, ainda que, com a presença de Rafael Longuine, que entrou no intervalo no lugar de Vecchio, bastante apagado e travado na partida, a equipe tenha ganho mais velocidade na transição para o ataque. Contudo, em uma jogada aérea, com Marcos Júnior desviando na área para uma grande defesa de Vanderlei, Wellington Silva empatou no rebote.

ricardo oliveira marcou para o santos

Na estreia do uniforme número 3, Santos contou com o oportunismo de Ricardo Oliveira (SantosFC)

Foi o pior momento do jogo para o Santos, que chegou a ser ameaçado nesse meio tempo, quase tomando a virada. O alívio para o torcedor peixeiro veio aos 35. Após uma bonita cobrança de falta na trave, Jean Mota cobrou escanteio na primeira trave, com Ricardo Oliveira aproveitando a assistência. Depois disso, os donos da casa mantiveram a posse de bola e não sofreram pressão do Fluminense.

Com o resultado, o Santos chega ao quinto triunfo nas últimas seis partidas pelo Brasileirão. O fator positivo é que o time voltou a jogar bem, mesmo com desfalques sensíveis e um elenco nem tão qualificado como os dos rivais que estão acima dele na tabela. Mantendo o aproveitamento, é possível pensar sim no G3.

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Brasileirão 2016 – O histórico de Santos e Fluminense

Times fazem partida decisiva nesta quarta (5). O histórico de confrontos entre ambos é equilibrado, mas Peixe tem ampla vantagem na Vila Belmiro

Mais decisão. Em partida válida pela 29ª rodada do campeonato brasileiro de 2016, o Santos enfrenta nesta quarta-feira (5) o Fluminense, às 21h, na Vila Belmiro. O Peixe está dois pontos à frente do Tricolor, e precisa da vitória não apenas para afastar um concorrente direto, mas também para se aproximar do G3, o que garante o acesso direto à fase de grupo da Libertadores.

O histórico de jogos entre os dois é bastante equilibrado, com uma vitória de vantagem para os cariocas. Segundo o Acervo Histórico Santos Futebol Clube, são 92 partidas, com 36 vitórias santistas, 37 tricolores e 19 empates. O Peixe fez 149 gols e levou 152. Na Vila Belmiro, no entanto, a história é outra. São 30 duelos, com 15 triunfos peixeiros, 8 empates e 7 derrotas.

Vanderlei goleiro santos selecao

Vanderlei, destaque do Brasileiro, é peça fundamental no Peixe (Ivan Storti/Santos FC)

Para o torcedor do Santos, obviamente que o encontro entre as duas equipes remete à semifinal do Brasileiro de 1995, uma partida épica do Alvinegro na qual Giovanni fez uma das maiores partidas que eu e muitos outros torcedores viu um jogador fazer com o manto sagrado. Vale a pena relembrar.

Prováveis escalações de Santos e Fluminense

Com Lucas Lima na seleção brasileira e Vitor Bueno ainda no departamento médico, Dorival Junior deve colocar em campo os meias Jean Mota e Vecchio. David Braz segue no lugar do também contundido Gustavo Henrique.

Já o Fluminense não conta com o goleiro Diego Cavalieri, que será substituído por Júlio César, e segue sem o lateral Jonathan, substituído por Wellington Silva.

Ficha técnica de Santos e Fluminense

Local: Vila Belmiro – Santos (SP)
Horário: 21h
Árbitro: Igor Junio Benevenuto
Auxiliares: Pablo Almeida da Costa e Celso Luiz da Silva – MG
Santos – Vanderlei, Victor Ferraz, Luiz Felipe, David Braz, Zeca; Thiago Maia, Renato, Jean Mota, Vecchio, Copete; Ricardo Oliveira.
Técnico: Dorival Júnior.
Fluminense – Júlio César, Wellington Silva, Gum, Henrique e Willian Matheus, Pierre, Douglas, Cícero e Scarpa, Wellington e Marcos Junior.
Técnico: Levir Culpi.

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Fluminense 2 X 4 Santos – Peixe vence a segunda fora de casa e cola no G4

Com grande atuação ofensiva, Alvinegro supera rival com belas atuações do estreante Rodrigão, Gabriel, Cittadini e Vanderlei

O Peixe conseguiu na noite desta quarta-feira (22) sua segunda vitória fora de casa, mostrando que o triunfo sobre o Santa Cruz não foi por acaso. Desta vez, de virada, saindo de uma situação adversa na qual os donos da casa eram superiores. Um grande jogo entre Santos e Fluminense, melhor ainda por terminar com uma vitória alvinegra.

Na primeira etapa, o jogo estava equilibrado até a dupla de zaga cometer uma falha… dupla. Gustavo Henrique cabeceou a bola pra cima e Luiz Felipe perdeu a disputa – ou sequer disputou – por cima com Magno Alves. A bola sobrou para Marcos Júnior, impedido, anotar.

Já havia dito neste post que a jogada aérea era uma das principais armas do Fluminense. E foi por cima também que os donos da casa chegaram de novo, exigindo de Vanderlei duas grandes defesas na sequência, aos 28, lembrando Rodolfo Rodríguez.

O Peixe não conseguia fazer seu tradicional jogo de troca de passes e errava bastante na criação no meio de campo. Até que Leo Cittadini deu um belo passe para Rodrigão, o estreante da noite, e que, àquela altura, era bastante participativo.

Dez minutos depois, aos 48 e no mesmo lado esquerdo da defesa do Fluminense, Vitor Bueno serviu Gabriel que, quase no mesmo lugar de Rodrigão, também chutou com a canhota, “matando” Diego Cavalieri. Duas jogadas de infiltração, dessas que o Alvinegro treina e tem conseguido executar muito bem.

Logo no início da etapa final, aos 5, Gabriel fez o terceiro em um contra-ataque rápido do Alvinegro armado por Léo Cittadini. O meia passou para Rodrigão, que disputou e perdeu a redonda para Wellington Silva. A bola sobrou para o dez peixeiro que não perdoou.

O Fluminense esboçou uma reação com a entrada de Maranhão, que substituiu o volante Pierre. Aberto pela direita, ele criou algumas chances para os donos da casa, que fizeram o segundo gol aos 20, mais uma vez com Marcos Júnior e participação de Magno Alves. Tudo fruto de um bola bobamente perdida por Victor Ferraz na intermediária.

A entrada de Lucas Lima no lugar de Cittadini mudou a dinâmica de jogo do Alvinegro, que passou a valorizar mais a posse de bola, mas sem abrir mão das jogadas agudas de contra-ataque. Assim, aos 27, o quarto gol veio em cobrança de falta de Lima. Rodrigão cabeceou e Luiz Felipe complementou também de cabeça.

O Santos ainda teve o valoroso Yuri no lugar de Vitor Bueno, que desta vez desperdiçou diversos lances que poderiam ter redundado em oportunidades de gol. O time teve cabeça para ficar com a bola, quando necessário, chegando a passar mais de dois minutos seguidos trocando passes, e buscar o gol em ataques velozes. Três pontos preciosos fora de casa, algo que faltou no ano passado.

Rodrigão é destaque

Com um gol, no momento mais agudo da partida, uma participação importante no terceiro e uma assistência no segundo, o estreante Rodrigão, substituído com câimbras no segundo tempo, foi destaque, mas não só ele. Enquanto esteve com fôlego, Cittadini também foi crucial para a equipe e Vanderlei, além de duas defesas seguidas sensacionais, soube acalmar o jogo e passou a segurança que o miolo de zaga não consegue passar.

E, claro, menção honrosa a Gabriel, autor de dois gols e que poderia até ter feito o triplete ou hat trick. Mas está de bom tamanho.

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Fluminense X Santos – Rodrigão, Yuri… o que esperar do Peixe no jogo de hoje?

Alvinegro tem chance de mostrar que primeira vitória fora de casa, contra o Santa Cruz, não foi por acaso

O Santos enfrenta na noite desta quarta-feira (22) o Fluminense, em partida válida pela 10ª rodada do Campeonato Brasileiro. Com os estádios do Rio de Janeiro interditados por conta das Olimpíadas, o itinerante time de Levir Culpi mandará a partida em Cariacica, no Espírito Santo.

Após uma peleja em que teve até bons momentos, mas acabou mais uma vez sofrendo um gol no final, novamente pelo alto, o Alvinegro encara sua segunda partida consecutiva fora de casa. É a chance de superar o tal trauma de só vencer em seus domínios, levando-se em conta ainda que os rivais também não estão acostumados com o estádio Kléber Andrade.

Dorival Júnior continua sem poder contar com Ricardo Oliveira e também não deve escalar entre os titulares o meia Lucas Lima, em fase de recondicionamento físico. Outra novidade será a manutenção do volante Yuri na zaga, mas ao lado de Gustavo Henrique, que volta de suspensão. Assim, Luiz Felipe volta para o banco. Joel também perderá o lugar, sendo substituído por Rodrigão, reforço vindo do Campinense. Outro que pode ter oportunidade no decorrer do jogo é Emiliano Vecchio, argentino vindo do Qatar Sports.

Volante Yuri vai atuar pela segunda vez como zagueiro (Foto: Ivan Storti/Santos FC)

Volante Yuri vai atuar pela segunda vez como zagueiro (Foto: Ivan Storti/Santos FC)

Assim, a equipe provável do Santos é Vanderlei; Victor Ferraz, Gustavo Henrique, Yuri e Zeca; Renato, Thiago Maia, Vitor Bueno e Léo Cittadini; Gabigol e Rodrigão.

Pra ficar de olho – bolas aéreas

O Alvinegro tem sofrido com lances pelo alto, e essa falha não pode ser atribuída somente à zaga, como costumeiramente o torcedor faz. No último jogo contra o Atlético-PR, por exemplo, quem vacila na marcação é Paulinho. Em bolas paradas, a responsabilidade é de todos e com a redonda correndo, volantes e o lateral contrário também têm que participar do posicionamento defensivo. E, claro, o melhor sempre é ao menos dificultar o cruzamento.

O Fluminense, de acordo com o Footstats, é o terceiro time que mais cruzamentos certos faz no Brasileiro de 2016, ficando atrás de Atlético-MG e Palmeiras. Mais da metade dos 58 feitos até agora, aliás, tem como fonte um jogador: Gustavo Scarpa. Sozinho, ele fez 30, o que o coloca na liderança no quesito entre os atletas da competição, longe do segundo colocado, Alan Patrick, do Flamengo. No caso de Scarpa, os acertos vêm da quantidade de bolas que ele cruza, já que o jogador também é líder em cruzamentos errados, 68 até agora.
Ou seja, o cruzamento é arma do Fluminense. A tendência é chover bola na área santista.

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Há 20 anos: Santos 5 X 2 Fluminense – uma partida histórica

A decisão da semifinal do campeonato brasileiro de 1995 faz aniversário nesse dia 10 de dezembro. Não foi, definitivamente, uma partida comum. A goleada alvinegra teve como destaque Giovanni, o Messias, que trouxe de volta o sorriso e um futebol de gala para o torcedor

Era um domingo, e o horário pouco trivial para uma semifinal de campeonato brasileiro. A partida teve início às 19h, e, para variar, quem implantou o novo horário para jogos de futebol aos domingos havia sido a Globo, à época preocupada com as constantes derrotas do Domingão do Faustão para o Programa do Gugu, no SBT. O palco não era a Vila Belmiro, mas um Pacaembu lotado de santistas que acreditavam em um milagre.

Sim, o Peixe havia perdido a partida de ida para o Fluminense, no Maracanã, por 4 a 1, e o time carioca era uma das defesas mais sólidas do futebol brasileiro naquele ano. Lembro de jogar bola na praia do Itararé, em São Vicente, à tarde, e um amigo corintiano dizer que o técnico Cabralzinho havia enterrado as chances alvinegras naquele jogo, por tentar manter uma formação ofensiva em vez de segurar a derrota pelo placar mínimo. Disse preferir perder assim, buscando a vitória, e completei dizendo que o Santos não estava eliminado ainda. Ele riu e perguntou: “Você acha que vão ganhar por três gols de diferença?”.

Sim, eu achava, mas não era só eu. Aquele time tinha desenvolvido um futebol ofensivo, brilhante, no segundo turno do Brasileiro e com um craque que honrava a camisa dez sagrada do Santos. Giovanni comandava a equipe que contava com Jamelli, Macedo, Vágner, Robert, Narciso, Carlinho, Camanducaia, Edinho e outros que devolveram a esperança e a auto-estima à nação santista. Sim, era possível. E a história foi escrita com muita emoção, mas também com uma vontade incrível de cada um dos jogadores daquele time. E com um talento sobrenatural do Dez alvinegro.

Não é à toa que aquela partida ficou na memória dos santistas, talvez como a maior que o Peixe fez nos últimos vinte ou trinta anos. O site do Globo Esporte vai transmitir a íntegra a partir das 15h desta quinta-feira, mas você pode conferir os melhores momentos abaixo. Segue também um texto adaptado de um original já publicado no blogue sobre o duelo antológico.

Semifinais do Brasileiro de 1995 – Santos 5 X 2 Fluminense

Naquele dia vi uma das partidas mais memoráveis da história recente do futebol brasileiro. E, para mim, a maior atuação de um jogador de futebol que testemunhei com a camisa 10 que foi de Pelé.

giovanni santos x fluminense

Era um domingo, 10 de dezembro de 1995. Já havia visto in loco na Vila Belmiro o Santos vencer o Corinthians por 3 a 0 e, no meio da semana; e superar o Palmeiras de Luxemburgo, no Pacaembu, por 1 a 0, com um golaço de Wagner. Esses resultados consolidariam a arrancada alvinegra rumo às semifinais do Brasileiro daquele ano. Eram 24 times divididos em dois grupos e todos jogavam contra todos, classificando-se os campeões de cada grupo no primeiro e segundo turno.

Mas, daquela vez, teria que me contentar em assistir à partida pela televisão. Era o segundo jogo da semifinal entre Santos e Fluminense. No primeiro, no Maracanã, o Peixe perdia por 2 a 1 até os 40 minutos quando, no final, levou dois gols do time carioca, terminando a partida com dois jogadores a menos (Robert e Jamelli foram expulsos). Precisaria devolver a diferença de três gols na volta para chegar à final.

A missão parecia impossível. Nenhuma equipe havia descontado uma vantagem como essa na história do Brasileirão e, nos confrontos entre os dois times até então na competição, jamais o Alvinegro havia vencido o Tricolor por mais de um gol de diferença. Além disso, o Fluminense tinha a melhor defesa do campeonato (17 gols em 23 partidas) e o campeão do Rio (com o gol de barriga de Renato Gaúcho) não perdia por tal diferença no campeonato há 28 jogos. Mas o Santos contava com Giovanni, o 10 chamado de Messias pela torcida, e que, naquele dia, de fato concretizou um milagre.

E quem deu início à histórica jornada foi o lépido atacante Camanducaia, que driblou pela esquerda do ataque e sofreu pênalti. Giovanni, sereno, cobrou e, ato contínuo, foi até o fundo da rede buscar a bola e levá-la até o meio de campo. Sabia que era preciso fazer mais. Ainda na primeira etapa, o dez recebe do meia Carlinhos, finta Alê e chuta, de bico. Novamente, vai até o fundo do gol e resgata a bola. Parecia mais que obstinado. Aparentava estar possesso.

No intervalo, o show continuava. O time não desceu para os vestiários, o técnico Cabralzinho preferiu que os atletas sentissem o calor da torcida que lotava o Pacaembu. E, aos 6 minutos, o time retribui a força dos torcedores. Giovanni toca para Macedo, que se livra da marcação e faz com a canhota. O Santos atingia seu objetivo, mas a alegria não durou um minuto. Na seqüência, Rogerinho empatou para o Fluminense e o time carioca voltava a ter uma vaga na final.

De novo, Giovanni teve que intervir. O zagueiro Alê não sabia se atrasava a bola ou saía jogando e o craque santista deu o bote, roubando a bola que, na dividida entre os dois e o goleiro Wellerson, sobrou para Camanducaia fazer o quarto. De novo, o Alvinegro estava na final. Mas o zagueiro Ronaldo Marconato acabou expulso e o time, com um a menos, se retraiu, dando calafrios na torcida.

Foi quando bola chegou no meio de campo para… bom, nem precisa dizer para quem chegou a bola. Havia dois jogadores do Fluminense marcando em cima e mais um à espreita. O Dez conseguiu, com um passe antológico de calcanhar, achar Marcelo Passos, que avançou até a entrada da grande área, limpou Vampeta e chutou no canto esquerdo de Wellerson. Segundo Odir Cunha em seu Time dos Céus, o lance, que ocorreu quase em frente ao técnico tricolor Joel Santana, fez com que o mesmo exclamasse: “Pqp… como joga esse cara!”.

5 a 1, o torcedor do Santos podia respirar mais aliviado. Ou melhor, nem tanto. Em seguida, Rogerinho de novo desconta para a equipe do Rio. Mas não dava mais tempo. Um espetáculo fabuloso, com belos lances e todo o requinte de drama. Isso sem contar a torcida que jogou junto o tempo todo, tanto que Renato Gaúcho, ao desembarcar no Rio, declarou, conforme relato de Cunha: “Nunca tinha sentido tanta pressão da torcida jogando no Brasil. Era como se estivesse na Bombonera enfrentando o Boca Juniors em uma decisão.”

Uma classificação heróica, um jogo que entrou para a História e um craque que não deixava dúvidas. E que me desculpem Pita – que vi atuar quando moleque -, Diego ou Zé Roberto, mas Giovanni foi o maior camisa 10 que testemunhei jogar no Santos.

Santos
Edinho; Marquinhos Capixaba, Ronaldo, Narciso e Marcos Adriano; Carlinhos, Gallo, Giovanni e Marcelo Passos (Pintado) (Marcos Paulo); Camanducaia (Batista) e Macedo
Técnico: Cabralzinho
Fluminense
Wellerson; Ronald, Lima, Alê (Gaúcho) e Cássio; Vampeta, Otacílio, Rogerinho e Aílton; Valdeir (Leonardo) e Renato Gaúcho
Técnico: Joel Santana
Local: Estádio do Pacaembu, em São Paulo (SP)
Público: 28.090 pagantes

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Sorteio das quartas de final da Copa do Brasil: Santos enfrenta o Figueirense

Após eliminar Corinthians, torcida segue confiante no time na Copa do Brasil (Foto: Ivan Storti/Santos FC)

Após eliminar Corinthians, torcida segue confiante no time na Copa do Brasil (Foto: Ivan Storti/Santos FC)

A Confederação Brasileira de futebol (CBF) realizou no início da tarde de hoje o sorteio que definiu os confrontos das quartas de final da Copa do Brasil 2015. O Santos vai enfrentar o Figueirense e, caso avance, vai enfrentar o vencedor do duelo entre São Paulo e Vasco.

Até agora, o Alvinegro já eliminou na competição, pela ordem, o Londrina, o Maringá, o Sport e o Corinthians. O artilheiro do time é Gabriel, com quatro gols, seguido por Ricardo Oliveira, Elano e Marquinhos Gabriel, com dois cada um. Anotaram ainda uma vez pelo Peixe Robinho, Geuvânio e Lucas Lima.

O cruzamento das semifinais da Copa do Brasil 2015 vai se dar entre os classificados da chave 1 contra o da chave 2 e o da chave 3 contra o da chave 4.

 

Confira abaixo como ficou a tabela da Copa do Brasil:

Chave 1 – São Paulo X Vasco

Chave 2 – Figueirense X Santos

Chave 3 – Palmeiras X Internacional

Chave 4 – Grêmio X Fluminense

 

Semifinais da Copa do Brasil 2015

Classificado da chave 1 X Classificado da chave 2

Classificado da chave 3 X Classificado da chave 4

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Santos não “amolece” e vence o Fluminense no Prudentão

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Thiago Ribeiro marcou e Santos foi a 51 pontos no Brasileirão (Ivan Storti/Santos FC)

Se a polêmica do fim de semana foi proporcionada pela leitura labial de Júlio Baptista, levantando a hipótese de o Cruzeiro ter “amolecido” para o Vasco, ainda ameaçado pelo rebaixamento, o Santos não deu mole para o Fluminense, também a perigo, no Prudentão, e bateu o Tricolor por 1 a 0.

“Ficou de bom tamanho”, admitia o goleiro Diego Cavalieri, melhor jogador dos visitantes no jogo. E ele tem razão. A equipe de Dorival Junior foi com o objetivo único de não perder, e sofreu pressão do Peixe durante boa parte do primeiro tempo. Mas o ataque santista esbarrou na própria afobação e no arqueiro adversário. O time carioca foi para o intervalo sem ter realizado uma única finalização que fosse à meta de Aranha.

Na etapa final, os cariocas voltaram com outra disposição, mas ainda assim o Santos continuou mandando na partida. Claudinei desta vez optou por soltar mais os laterais para o apoio ao ataque, em especial Cicinho pela direita, mas foi com o avanço de um de seus volantes que surgiu a jogada do gol. Arouca carregou a bola e tocou para Geuvânio, que devolveu de primeira. O Cinco peixeiro fez o lance de linha de fundo e tocou para Thiago Ribeiro marcar.

No mesmo estádio em que se sagrou campeão brasileiro em 2012, rebaixando o Palmeiras, o Fluminense sentia a derrota que pode levá-lo mais à frente para a Série B. Até tentou atacar, mas, embora houvesse vontade, o time mostrou por que está nessa situação. Enquanto isso, o Santos ora perdia chances de ampliar, ora tocava a bola colocando o rival na roda. Mesmo sem pretensões na competição, fez valer a dignidade. Ao todo, foram 21 finalizações santistas contra somente 3 dos cariocas, segundo o Footstats, e 42 desarmes contra 25.

Um a zero foi o final da primeira peleja da “turnê de despedida” de Claudinei do comando do Santos. Que ao menos a equipe mantenha a postura altiva nas duas últimas rodadas, mas vendo esse e lembrando de outras pelejas, fica a sensação de que, com um pouco mais de ousadia (e alegria?) o Alvinegro Praiano poderia ter ido mais longe. Mas, agora, só em 2014…

Com a vitória, o Peixe empatou o histórico de confrontos com o Fluminense: 34 vitórias para cada um.

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Pré-jogo – Santos pode empatar histórico de confrontos contra o Fluminense

Quando entrar em campo neste domingo, no Prudentão, o Santos terá a oportunidade de empatar um histórico acirrado de confrontos contra o Fluminense. Nas 86 partidas disputadas entre os dois até agora, são 34 triunfos tricolores e 33 santistas, além de 19 empates. Na era dos pontos corridos, o Peixe tem uma vitória a mais que o rival. No total, 45 pelejas aconteceram no estado do Rio de Janeiro e 41 em São Paulo.

O primeiro duelo entre os dois aconteceu em 1918, vitória de 6 a 1 do Fluminense na Vila Belmiro, resultado que é até hoje a maior goleada dos cariocas contra o Alvinegro. Arnaldo Silveira marcou para o Santos e Welfare (3), French (2) e Zezé fizeram para os visitantes. Outro resultado importante da era pré-profissional aconteceu no primeiro encontro oficial entre os dois, no Rio-São Paulo de 1933, vitória peixeira em casa, 4 a 3, dois gols de Victor Gonçalves e dois de Raul. Álvaro, Vicentinho e Said marcaram para os cariocas.

Placa em homenagem ao gol de Pelé contra o Fluminense, em 1961

Placa em homenagem ao gol de Pelé contra o Fluminense, em 1961

Já pelo Rio-São Paulo de 1961, em 5 de março daquele ano, o Santos bateu o Fluminense no Maracanã por 3 a 1, ocasião em que Pelé fez o famoso “gol de placa”, surgindo assim a expressão usada para classificar um gol bonito. O feito do camisa Dez ocorreu aos 40 minutos do primeiro tempo, quando Dalmo passou a bola para Pelé, no campo de defesa do Santos. Ele arrancou em velocidade e, já na área do adversário, driblou Pinheiro, livrou-se de Jair Marinho e finalizou sem dar chance ao goleiro Castilho. O jornalista Joelmir Beting foi quem teve a ideia de eternizar o tento com uma placa de bronze, feita pelo jornal O Esporte.

Mais recentemente, uma das partidas mais fantásticas da história do Santos e a maior atuação individual de um jogador que eu já vi. Giovanni conduziu o Peixe a um triunfo espetacular, o 5 a 2 que classificou a equipe para a final do campeonato brasileiro de 1995. Veja o post sobre a partida aqui e o vídeo com os gols abaixo.

Em 2003, o então campeão brasileiro pegou o Fluminense em Édson Passos e sapecou um 4 a 1 no adversário, gols de Elano, Nenê, Ricardo Oliveira e Jerri (Romário descontou para o Fluminense) Antes do apito inicial, um fato, digamos, curioso. O zagueiro santista Pereira, hoje no Coritiba, passou mal e vomitou no gramado, adiando o início do jogo por seis minutos. Mesmo assim, jogou normalmente.

O Peixe comandado por Emerson Leão entrou em campo na ocasião com Júlio Sérgio no gol, Wellington (Preto), Pereira, André Luís e Léo; Daniel Paulista, Renato, Alexandre (Jerri) e Elano; Nenê (Rubens Cardoso) e Ricardo Oliveira. A equipe jogava desfalcada de Alex, Paulo Almeida, Diego e Robinho que serviam à seleção brasileira pré-olímpica na disputa da Copa Ouro, no México.

Destaque para o belo gol de Jerri, meia surgido nas categorias de base do Peixe e tido como muitos como sucessor de Diego à época, apesar de ser dois anos mais velho. Mas não vingou. “O jogador precisa ter um objetivo também no profissional. Ele precisa da vontade de querer ser alguém no profissional, e não na base. O Jerri teve muita expressão na base e se acomodou, perdendo o foco ao subir”, disse Adílson Durante Filho nessa matéria, sobre o atleta. O meia foi emprestado ao Goiás em 2004, retornou à Vila em 2005 e foi negociado com o Al Nassr, onde permaneceu até ser negociado com o Al Shaab, em 2011. Hoje atua no Chiangrai United, da Tailândia. Confira os melhores momentos daquela peleja.

A maior goleada santista contra o rival aconteceria um ano depois, no Brasileiro de 2004. O Peixe disputava cabeça a cabeça a liderança contra o Atlético-PR do artilheiro Washington, e jogou em São José do Rio Preto diante de 21.673 pessoas, já que a Vila Belmiro havia sido interditada por conta do arremesso de um copo plástico de água em Hélio dos Anjos, técnico do Vitória.

A grande estrela da partida foi de Robinho, autor de dois gols. Deivid fez os outros dois e Laerte anotou contra. Esta, aliás, foi a última partida do Rei das Pedaladas antes do sequestro de sua mãe, que o fez ficar de fora do time mais de um mês. Na partida seguinte, o abalado Santos só empatou com o Criciúma e passou a vice-liderança, superado ali pelo furacão. Robinho voltou na última partida, contra o Vasco, que selou o Peixe como campeão brasileiro de 2004.

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Pelé fazia o milésimo gol há 44 anos

Há 44 anos, Dona Celeste, mineira de Três Corações, fazia 46 anos. Naquele 19 de novembro, porém, não comemorou a data pessoalmente com o filho, que estava longe, no Rio de Janeiro. Dico já não era mais garoto, tinha completado 29. Aliás, nem Dico era mais. O filho de Dondinho pela primeira vez na carreira se sentia realmente nervoso. Estava prestes a fazer história de novo. Ele, autor de façanhas inúmeras, partia em direção à bola para ser novamente único. O primeiro a marcar mil gols.

Mas, antes de chegar até ali, a expectativa foi grande. Em outubro, Pelé tinha 989 gols. Até a partida contra a Portuguesa, válida pelo Campeonato Brasileiro, então Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Na peleja disputada no Pacaembu, o Peixe venceu por 6 a 2, com quatro gols dele. A partir daquele dia 15, a contagem regressiva começou.

Selo comemorativo do milésimo gol de Pelé

Selo comemorativo do milésimo gol de Pelé

No jogo seguinte, contra o Coritiba, na capital do Paraná, o Santos superou o time da casa por 3 a 1, dois do Rei. Faltavam cinco. Nenhum tento viria no empate em zero a zero contra o Fluminense, no Maracanã, que contou com a presença pouco afável do ditador Médici. Ele não marcaria também contra o América-RJ, no Parque Antárctica, igualdade em 1 a 1, gol de Edu.

Pelé voltaria a fazer o seu em um 4 a 1 contra o Flamengo, no Maracanã, mas passaria em branco na derrota pelo mesmo placar contra o Corinthians, no Pacaembu. No empate em 1 a 1 contra o São Paulo, no Morumbi, foi Rildo quem fez o tento peixeiro. E viria uma sequência de três partidas no Nordeste, contra Santa Cruz, Botafogo-PB e Bahia. As chances de o milésimo vir ali eram grandes e cada cidade e clube pensou, e ao fim preparou, sua festa à sua maneira.

O Santinha não foi páreo para o Peixe na Ilha do Retiro e perdeu por 4 a 0, dois gols de Pelé. Em João Pessoa, o Santos foi recebido com festa no aeroporto e o Rei recebeu o título de cidadão da capital paraibana. Quem conta o que aconteceu é o próprio Atleta do Século, no obrigatório Pelé: minha vida em imagens (Cosac Naify):

“Mal o jogo começou, o Santos fez dois a zero, com bastante facilidade. A partida estava realmente fácil, e quando eu já me perguntava se aquilo não era de propósito, o juiz marcou um pênalti a nosso favor. A multidão explodiu em euforia e começou a gritar ‘Pelé! Pelé!’. Mas eu não era o batedor de pênaltis do time. (…) A pressão era enorme para que eu batesse. Meus companheiros de equipe disseram que, se eu não o fizesse, o público não nos deixaria sair daquele estádio!” Ele bateu e fez o 999º gol.

Tudo indicava que seria ali o local do milésimo. Mas o improvável aconteceu. O goleiro Jair Estevão caiu no gramado, contorcendo-se de dor, e foi retirado de campo. Como não havia jogador no banco para substituição, o “arqueiro reserva” do time – e também da seleção – era Pelé, que foi para debaixo das traves. Como muitos disseram à época, aquela contusão parecia bastante apropriada para que o histórico tento não saísse na pequena Paraíba. “Só que assim que o Pelé fez o gol de número 999, eu fui obrigado a me ‘contundir’ e o Pelé foi para o gol no meu lugar porque, premeditamente, eu entrei em campo sem goleiro reserva. O esquema foi bolado pelo Júlio Mazzei, porque ninguém do Santos queria que o milésimo gol de Pelé saísse na Paraíba e sim no Maracanã”, conta Jair, no Blog do Milton Neves.

Mas ainda haveria mais um jogo antes do Santos ir ao Rio de Janeiro, contra o Bahia, em Salvador. E ninguém havia “combinado” nada com Pelé, que queria se livrar da pressão o quanto antes. O Rei teve duas chances. Em uma oportunidade, a bola bateu na trave. “Na segunda, recebi a bola perto da marca do pênalti, dei uma volta, passei por um jogador e avancei para o lado direito do gol. Chutei e o goleiro não conseguiu pegar, mas, vindo não sei de onde, apareceu um zagueiro e tirou a bola na linha do gol. Em vez dos torcedores de seu time comemorarem, o estádio inteiro vaiou. Era algo surreal”, conta o Dez em Pelé: minha vida em imagens. O jogador Nildo “Birro Doido”, falecido em 2008, ficou conhecido como o homem que evitou o milésimo gol do Rei.

Pelé comemora o milésimo gol no Maracanã

Pelé: 1281 gols na carreira (Ed. Sextante)

Após o empate em 1 a 1 com os soteropolitanos (gol alvinegro de Jair Bala), chegava a noite da quarta-feira, no Maracanã, contra o Vasco. O zagueiro vascaíno Renê cometeu um pênalti em Pelé e, aos 33 do segundo tempo, ele cobrou. Com paradinha, como aprendera vendo Didi cobrar em treinos da seleção brasileira. Mesmo saltando no canto certo, o argentino Andrada não segurou e veio o milésimo.

O jogo parou por 20 minutos, e alguns torcedores entregaram a Pelé uma camisa do Vasco com o número 1000. O tento foi dedicado às “criancinhas”, por conta de um fato ocorrido dias antes. “Eu tinha saído do treino um pouco mais cedo e vi alguns garotos tentando roubar um carro que estava perto do meu. Eram muito pequenos, do tipo para quem se costuma dar um dinheirinho para tomar conta do carro. Chamei a atenção deles para o que faziam, e eles replicaram que eu não precisava me preocupar pois só roubariam carros com placa de São Paulo. Mandei-os sair dali, dizendo que eles não roubariam carro de nenhum lugar. Lembro-me de ter comentado sobre isso, mais tarde, com um companheiro de time, sobre a dificuldade de se crescer e educar no Brasil. Já então me preocupava com a questão da educação das crianças e essa foi a primeira coisa que surgiu em minha cabeça quando marquei o gol”, diz, em Minha vida em imagens.

Pelé continuaria marcando gols, chegando a 1.281 em sua carreira. No entanto, matéria do jornal Folha de S.Paulo publicada em 1995 aponta que o milésimo teria sido marcado, de fato, na partida contra o Botafogo-PB. Isso porque a lista de seus tentos omitiria um feito pela seleção do exército, em 1959, contra o Paraguai, partida válida pelo Sul-americano.

Sobre a contagem de seus gols feitos pelo time das Forças Armadas, vale destacar que, diferentemente de atletas que contam tentos marcados quando amadores, os anotados na lista de Pelé foram feitos quando ele já era profissional, e era praxe que as seleções das Forças Armadas à época contassem com jogadores profissionais com idade para servir. O time pelo qual jogou o Rei, por exemplo, contava com outros que já atuavam no futebol profissional como Nélson Coruja, Lorico e Parada. E são contabilizados 15 gols dele na seleção do exército, o que o deixa com uma margem mais que folgada para a contagem de mais de mil gols, ao contrário das contas de outros que não chegariam a essa marca sem artifícios como incluir jogos-treino como amistosos ou contabilizar gol de partida anulada…

A despeito da questão numérica, fica a lembrança dos versos de Drummond em “Pelé: 1.000”: “O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols, como Pelé. É difícil fazer um gol como Pelé.”

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