Atacante que jogou no Peixe entre 1977 e 1983, além de um passagem quase no fim de carreira em 1989, fez história com seu futebol rápido, habilidoso e irreverente
Nesta quinta, 16 de junho, um dos mais marcantes atacantes do Peixe faz 57 anos. Juary Jorge dos Santos Filho disputou 231 partidas pelo Peixe e durante muito tempo foi o terceiro maior artilheiro do clube pós-Era Pelé, sendo ultrapassado recentemente por Neymar e Robinho.
Nascido em São João de Meriti, no Rio de Janeiro, jogava pelo time do Pavunense, time amador da Pavuna, como lembra o blog Tardes do Pacaembu. Recebeu um convite de seu amigo Babá para jogar na equipe juvenil do Santos e não teve dúvidas.
Na Vila Belmiro, estreou contra o Volta Redonda, em 1976, uma vexatória derrota peixeira por 3 a 0 no Raulino de Oliveira. No ano seguinte, teve destaque na final de um torneio disputado em São Paulo contra o Atlético de Madrid, quando roubou uma bola do consagrado zagueiro Luis Pereira e marcou o tento alvinegro.
Com 1,66 e 66 kg, era rápido e habilidoso, encaixando perfeitamente na equipe montada por Chico Formiga que ficou conhecida como a primeira geração dos Meninos da Vila, em 1978. Ganhou fama como “carrasco do São Paulo” e confirmou a alcunha nas finais do Paulista daquele ano, disputadas em junho de 1979. Juary foi o artilheiro da competição com 29 gols.
Quando Neymar alcançou Juary na tábua de artilheiros do Peixe, fazendo 101 gols, comemorou como o menino da Vila de 1978 fazia, com uma dança em torno da bandeira de escanteio. Por coincidência, contra o São Paulo, alvo preferencial do antigo camisa nove, na semifinal do Paulista de 2012. Uma bonita homenagem, relembre:
O Santos joga contra a Portuguesa no Pacaembu neste domingo, às 16h, em um jogo no qual é mandante mas terá a maior parte da torcida. No histórico do confronto, o Peixe leva larga vantagem sobre o rival: são 239 jogos, com 113 vitórias peixeiras e 67 lusas, com 59 empates. Em campeonatos paulistas, são 157 pelejas, com 72 triunfos alvinegros, 47 lusos e 38 empates.
Contudo, no Pacaembu, ambos já se enfrentaram 44 vezes e é a Lusa que tem pequena vantagem: 17 vitórias contra 16 do Santos e 11 empates. Isso, aliás, se relaciona a um fator que precisa ser lembrado quando se analisam os confrontos entre o Peixe e equipes do Trio de Ferro: a maciça maioria das pelejas foi disputada em São Paulo, o que, na prática, significava uma inversão do mando de campo, prejudicando o Alvinegro nas estatísticas gerais.
Mesmo assim, o Peixe tem no Pacaembu um palco no qual mais triunfou do que saiu derrotado. Foi lá, aliás, que conquistou a Libertadores de 2011, por exemplo. No estádio, o Peixe disputou 493 partidas, vencendo 210, perdendo 151 e saindo com o empate 132 vezes.
Veja abaixo cinco grandes vitórias do Santos sobre a Lusa. Claro que não entra nessa lista o jogo mais polêmico entre os dois, o empate em 0 a 0 da decisão do estadual de 1973, com a disputa de pênaltis encerrada antes da hora pelo árbitro Armando Marques, o que resultou na divisão do título pelos dois times.
1 – Santos 10 X 0 Portuguesa (campeonato paulista de 1928)
Com cinco gols do atacante Wolf, dois de Feitiço, dois de Camarão e um de Evangelista, o Peixe goleou os rubro-verdes na Vila Belmiro em partida válida pelo campeonato paulista de 1928. O Alvinegro terminou a competição como vice-campeão, mesma colocação dos estaduais de 1927 e 1929. Esta é a maior goleada no confronto entre os dois, no entanto, a maior derrota sofrida pelo Alvinegro na era profissional foi para os lusos, 8 a 0 no paulista de 1955.
2 – Portuguesa 0 X 6 Santos (campeonato paulista de 1957)
No Pacaembu, mando de campo da equipe paulistana, o Peixe goleou por 6 a 0, em jogo do campeonato paulista de 1957. Após ser campeão em 1955 e 1956, o Alvinegro terminou a competição como vice, um ponto atrás do São Paulo, e superou os rubro-verdes em jogo da chamada Série Azul, que reunia os dez melhores times do primeiro turno do estadual e definia o campeão.
Naquele dia, Pelé marcou duas vezes, Dorval também fez dois, Jair Rosa Pinto anotou um e Afonsinho deixou o seu.
3 – Santos 4 X 0 Portuguesa (campeonato paulista de 1978)
Entre 1973 e 1982, a Portuguesa não soube o que era vencer o Santos. Foram 14 partidas de invencibilidade do Alvinegro e uma destas foi no Morumbi, no dia 9 de setembro de 1978, ocasião em que a primeira geração dos meninos da Vila não tomou conhecimento da equipe dirigida por Urubutão e que tinha Marinho Perez.
Um público de 40 mil pessoas viu João Paulo marcar dois tentos, um de Juary e outro de Pita, com Ailton Lira passeando pelo meio de campo. Detalhe para o belo terceiro gol, marcado pelo ponta João Paulo, e pela bela cominação no quarto tento, feito pelo dez Pita.
4 – Santos 2 X 0 Portuguesa (campeonato paulista de 2006)
Disputado por meio da fórmula de pontos corridos em turno único, o campeonato paulista de 2006 foi decidido na última rodada. Ao Santos, que disputava o título contra o São Paulo, bastava uma vitória simples contra a Portuguesa, na Vila Belmiro. A Lusa precisava vencer para escapar do primeiro rebaixamento no estadual da sua história.
A vitória por 2 a 0 deu ao Alvinegro o título depois de um jejum de 22 anos. O Peixe tinha saído da fila com o Brasileiro de 2002, sendo campeão de novo em 2004, mas ainda não tinha conquistado um estadual depois de 1984. O grito de campeão saiu da garganta do torcedor depois de um gol de Cléber Santana e outro de Leonardo, contra.
5 – Santos 3 X 0 Portuguesa (campeonato paulista de 2011)
No campeonato paulista de 2011, o Santos contava naquela partida com os retornos de Neymar, Elano e Léo e foi ali, depois de uma parada do carnaval, que o garoto anotou seus primeiros gols pelo Peixe no ano, já que havia servido a seleção sub-20 no sul-americano da categoria em janeiro.
A equipe, então comandada pelo interino Marcelo Martelotte, que havia entrado no lugar de Adílson Batista, venceu a Portuguesa na Vila Belmiro por 3 a 0, dois de Neymar e um de Léo, que contou com a assistência do menino. Vale a pena relembrar.
Dracena comemora seu 15º tento pelo Santos, na semifinal do Paulistão 2013
Com o gol que levou a partida contra o Mogi Mirim para a disputa de pênaltis, Edu Dracena não só assegurou a ida do Santos à final do Paulista de 2013 como também garantiu a vice-liderança entre os maiores zagueiros-artilheiros do clube.
Desde 2009, quando chegou ao Alvinegro, Dracena marcou 15 gols, mesmo número de três outros ex-peixeiros. Além do lance do empate contra o Mogi, o capitão santista também fez outros tentos importantes, como os anotados contra o Atlético-MG, nas quartas, e contra o Vitória, na final da Copa do Brasil de 2010. Também fez o seu contra o Cerro Porteño, nas semifinais da Libertadores de 2011. Confira abaixo quem são os outros quatro zagueiros que fazem parte da lista dos maiores artilheiros santistas na posição.
Alex (2002 a 2004) – 20 gols
O maior zagueiro artilheiro da história peixeira treinava entre os juniores do Jabaquara, de acordo com essa matéria, quando o técnico Emerson Leão precisou de gente para completar dois times em um coletivo. Alex entrou e conquistou a confiança do treinador, que resolveu apostar no talento do então garoto de 20 anos para formar dupla com André Luiz, as “torres gêmeas” da Baixada.
Apelidado de “novo canhão da Vila” por conta do seu chute forte, fez gols em cobranças de falta e também de cabeça em sua passagem pelo Santos. Campeão brasileiro em 2002, foi vice-artilheiro da equipe no Brasileiro de 2003, ao lado de Diego, Robinho, Renato e Willian, com nove gols, ficando atrás somente de Fabiano, com dez. Em 2004, foi para o PSV e, mais tarde, chegou ao Chelsea. Hoje, está no Paris Saint-Germain e faz dupla ao lado de Thiago Silva.
Joãozinho (1977 a 1983) – 15 gols
O quarto-zagueiro Joãozinho, apelido de João Rosa de Souza Filho, veio do Vitória para o Santos em junho de 1977, aos 21 anos, e já tinha fama de artilheiro, pois havia marcado nove gols no campeonato baiano de 1976. Logo que chegou, reza a lenda que um dirigente santista chegou no vestiário e tratou de estabelecer a “nova ordem”. “Joãozinho aqui no Santos só tem um e é esse que chegou do Vitória. De agora em diante, o ponta-esquerda que veio do São Cristovão deixa de ser Joãozinho e passa a ser João Paulo, que é o nome dele.” O ponteiro era “só” aquele que viria a ser o segundo maior artilheiro da Era Pós-Pelé, o Papinha.
Joãozinho, entre o goleiro Vítor e o parceiro de zaga Neto
O zagueiro fez parte da primeira edição dos Meninos da Vila, campeão paulista em 1978, e foi vice-campeão brasileiro em 1983. Mais tarde, ele era o auxiliar de Serginho Chulapa e assumiu o comando do Santos após a saída do ex-artilheiro, em 1994. Treinou o Santos até meados de 1995, quando foi substituído pro Cabralzinho, que comandaria a bela equipe vice-campeão brasileira daquele ano. Hoje, Joãozinho é supervisor das divisões de base do Alvinegro.
Márcio Rossini (1981 a 1985 e 1990) – 15 gols
Vindo do Marília, Márcio Rossini era o tipo de zagueiro central que não “aliviava”. Com 1,82 e 78 quilos nos bons tempos, foi um líder em campo na sua passagem pelo Peixe e chegou à seleção brasileira em 1983, disputando 13 partidas pela seleção treinada por Carlos Alberto Parreira.
Com Toninho Carlos, defensor que era mais técnico, formou uma dupla daquelas que muitos consideram a ideal para uma zaga, com um “zagueiro zagueiro” e outro clássico. Juntos, jogaram pelo Santos, pela seleção brasileira e, mais tarde, pelo Bangu. Além dos tentos marcados pelo Alvinegro, Márcio Rossini também fez um belo gol pela seleção brasileira, em 1983, um empate em 3 a 3 contra a Suécia. Veja abaixo o gol.
André Luis (2000 a 2004) – 15 gols
Cria da base santista, o gaúcho André Luis estreou no time no ano 2000, em uma vitória por 7 a 2 contra o Araçatuba. Disputou os Jogos Olímpicos de Sidney pela seleção, mas não chegou a se firmar no clube no período, sendo emprestado para o Fluminense entre o segundo semestre de 2001 e o primeiro de 2002. Um dos principais motivos da sua saída momentânea foi o escorregão diante do atacante Gil, do Corinthians, que resultou no gol de Ricardinho e na desclassificação alvinegra nas semifinais do campeonato paulista.
No seu retorno, fez bela dupla de zaga com Alex e foi peça importante na campanha que levou o Peixe ao título do Brasileirão de 2002, obtido contra o Corinthians. Ficou na equipe até 2004, transferindo-se na temporada de 2005 para o Benfica, após desentendimento com Vanderlei Luxemburgo.
Ontem, no dia 22 de maio, morreu em São Vicente uma das figuras mais importantes da história do Santos Futebol Clube. Francisco Ferreira de Aguiar, Chico Formiga, chegou do Cruzeiro, em 1950, com 19 anos, e participou da equipe base de 1955, que foi campeã depois de vinte anos sem conquistas. Formação que era música aos ouvidos santistas: Manga, Hélvio e Ivã; Ramiro, Formiga e Zito, Alfredo, Álvaro, Del Vecchio, Vasconcelos e Tite. Foi atleta do Peixe entre 1950 e 1056, e entre 1960 e 1963.
Lembro dele como técnico do time em 1983, quando o Peixe foi derrotado pelo Flamengo na final do Brasileiro. Mas aquele meio de campo com Dema, Lino, Paulo Isidoro e Pita marcaria a minha infância como um dos mais habilidosos que havia visto, daqueles que dava orgulho de torcer. Mas a história de Formiga como técnico peixeiro começa em uma época conturbada, quando o clube tentava se encontrar após o fim da Era Pelé.
Em seu Time dos Sonhos, Odir Cunha narra o que ficou conhecido como “Noite das Garrafadas” no Pacaembu, em 1978. O Santos enfrentou o Operário-MT e perdeu de virada. O resultado foi a revolta da torcida, que foi reprimida pela Polícia Militar, resultando em um saldo de dois santistas internados com traumatismo craniano. Formiga assistiu à partida das arquibancadas, enquanto seu auxiliar Mengálvio dirigia o time. Ali, em conjunto com Zito, então diretor, surgiu a decisão de apostar nos juvenis (ele havia treinado os meninos no Campeonato Paulista de Juniores), até porque os recursos eram escassos.
Formiga, mentor dos “meninos da Vila” de 1978
Foram promovidos garotos como Zé Carlos, Toninho Vieira e Pita, que se juntaram a atletas mais experientes como Clodoaldo e Aílton Lira. O “time que só sabia atacar”, como definia Formiga, venceu o forte São Paulo, campeão brasileiro de 1977, na final da competição (disputada em junho de 1979). Como em outras ocasiões, jogadores desacreditados ganharam um título, sob a batuta de alguém que acreditou neles. Aquela equipe ficou conhecida como a primeira geração dos “meninos da Vila”, fez oitenta gols naquele Paulista, e Juary foi o primeiro artilheiro santista pós-Era Pelé, com 29 tentos.
O treinador logo saiu, seduzido por uma quase irrecusável proposta financeira da Arábia Saudita. Voltaria para ser vice-campeão brasileiro em 1983, depois de ser campeão paulista pelo São Paulo em 1981. Mais tarde, tiraria o Corinthians de um penúltimo lugar no Estadual para ser vice-campeão em 1987. Contudo, um de seus grandes feitos viria em 1993, quando foi campeão mineiro comandando o América-MG e quebrando uma hegemonia de 21 anos da dupla Atlético-Cruzeiro. Lembro de uma entrevista com o treinador na Folha de S. Paulo, em que ele falava do seu grande sonho àquela altura: ser novamente técnico do Santos de seu coração.
Não conseguiu, mas colaborou com o clube como supervisor nas categorias de base, fazendo o que sempre soube fazer bem: descobrir e moldar talentos jovens. Pelo seu crivo passaram Robinho e, mais além, Neymar. Para sempre, ficará a gratidão do torcedor por quem tanto fez pelo time da Vila, dos mais diversos modos.