Técnico vem com o objetivo de “domar” o elenco santista. Mas isso pode ser pouco para levar o time aos títulos em disputa no segundo semestre
Levir Culpi é o novo técnico do Santos, com contrato firmado até o final do ano. Para entender a escolha da diretoria, é preciso olhar os motivos que levaram à queda de Dorival Júnior e também os técnicos que atualmente estão sem clube.
Primeiro, sobre Dorival. É precisa olhar os méritos do treinador. Chegou em 2015 em um time que estava na zona do rebaixamento, após uma derrotada humilhante para o Goiás. Conseguiu recuperar a equipe e levá-la quase à Libertadores naquele ano, ficando ainda com o vice da Copa do Brasil. Além disso, recuperou Thiago Maia, criando as condições para que o garoto, o pior em campo naquela goleada para o Goiás, brilhasse e chegasse à seleção olímpica. O mesmo pode-se dizer de Zeca, já negociado para os Estados Unidos, não indo por conta de um pedido do treinador.
Em 2016, um campeonato paulista e um outro vice, do Brasileiro. Mas a eliminação para o Internacional na Copa do Brasil já dava mostras do desgaste da equipe. Àquela altura, não existia a síndrome de só vencer em casa, mas em momentos importantes do Brasileiro o time parecia perder a pegada e atletas davam a impressão de não compreender o tamanho de jogos decisivos como, por exemplo, o confronto com o América-MG que fechou o primeiro turno, quando o Alvinegro estava na liderança da competição. Era a hora de colocar pressão sobre os rivais, bater o lanterna e mirar o título. Não aconteceu.
Essa aparente falta de vontade se avolumou em 2017 e deu as caras em diversos jogos. Pode-se atribuir isso a diversos fatores: desde a perda de comando de Dorival sobre o grupo, passando por problemas de condicionamento físico, o fato de jogadores veteranos estarem rendendo menos, as inovações táticas não funcionarem, até novas contratações estarem demorando a acertar. E, acima disso, uma diretoria cujo trabalho é questionável.
Os trabalhos recentes do novo técnico
Demitido Dorival, vem Levir Culpi. se os trabalhos recentes de seu antecessor não animavam a torcida santista, Dorival ao menos tinha uma identidade com o clube e uma passagem breve mas muito boa pelo clube em 2010. No Japão entre 2007 e 2013, voltou ao Brasil para treinar o Atlético-MG em 2014 e 2015, substituindo Paulo Autuori, aposta fracassada dos mineiros para substituir Cuca. Foi campeão da Copa do Brasil em 2014 pelo clube, campeão mineiro e vice-brasileiro em 2015.
Já no Fluminense, sua passagem foi bem menos proveitosa. Em 52 jogos, foram 22 vitórias, 15 empates e 15 derrotas, um baixo aproveitamento, de 51,9% de aproveitamento. Sua demissão veio após derrotas de virada, com a equipe apresentando sérios problemas defensivos, evidenciados na derrota de 4 a 2 para o Cruzeiro, sua última partida no comando do Tricolor.

O desafio de Levir Culpi não é trivial à frente do Santos (Foto Site oficial)
É preciso destacar uma diferença fundamental entre um e outro trabalho. Levir é identificado com os clubes de Minas, querido pela torcida do Atlético-MG, tendo sido o terceiro técnico que mais treinou o Galo. No clube mineiro, brigou com “medalhões” como Diego Tardelli, com o qual trocou farpas publicamente após a eliminação na Libertadores de 2014, e com Ronaldinho Gaúcho. Essa “falta de medo” de enfrentar medalhões teria sido um dos motivos da contratação do treinador. O problema é que quando Levir peitou o atacante Fred no Fluminense, após a saída do atleta a equipe não melhorou, pelo contrário.
Por isso que apostar em uma “fórmula” achando que vai chegar alguém e “colocar ordem na casa” é algo prematuro. O Santos precisa melhorar não somente no quesito motivação, mas também no preparo físico, além de aprimorar ou mesmo mudar sua forma de jogar, hoje já manjada pelos adversários, e ter outras opções táticas. Não é trabalho fácil.
Levir na Libertadores: sina das desclassificações nas oitavas
O novo treinador do Santos não tem um currículo muito animador quando se trata de Libertadores. Participou da competição em quatro ocasiões e nas últimas três foi eliminado na mesma fase, as oitavas de final.
Na edição de 2015, viu o Galo ser eliminado pelo Internacional após uma campanha irregular na fase de grupos. No ano anterior, comandou o Atlético apenas em uma partida, justamente na que selou sua eliminação diante do Atlético Nacional, um empate em 1 a 1. Em 1998, comandando o Cruzeiro, foi eliminado novamente nas oitavas de final pelo time que seria o campeão daquela edição, o Vasco. Já em 1992, quando dirigiu o Criciúma, chegou às quartas, derrotado pelo São Paulo. Mas é bom lembrar, neste último caso, que após a primeira fase os times classificados iam direto para as quartas, já que havia menos participantes. Ou seja, todas as eliminações de Levir foram imediatamente após a fase de grupos.
Pro outro lado, Muricy Ramalho, quando chegou ao Santos, também nunca tinha sido campeão da Libertadores, e foi em 2011 com o Alvinegro após uma sofrida classificação na primeira fase. E o time atual tem mostrado um comprometimento ímpar na competição sul-americana. Levir vai conseguir superar a síndrome das oitavas finalmente? Esperamos que sim.