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Santos perde para o Botafogo e termina série invicta na Vila Belmiro
Há algum tempo se falava muito entre comentaristas políticos sobre um tal “liturgia do cargo”. Significava, grosso modo, que um presidente da República deveria respeitar certos protocolos e rituais, assim como ministros, deputados, senadores, juízes do Supremo etc e tal, para fazer jus e honrar a função.
No Santos, a camisa que abrigou o maior jogador da História deveria merecer algum respeito. Claro que provavelmente nunca vai haver alguém que chegue perto do Rei, mas pelo menos o dez poderia ser um meia ofensivo. Outro dia, um volante-volante, Alan Santos, entrou no gramado com a camisa sagrada. Hoje, Renato Abreu entrou com ela. Não podia dar certo.
Não sei se foi a heresia que castigou a equipe ou se a esquizofrenia do pragmático Claudinei Oliveira. Sim, pois este deixou o retranquismo de lado quando estava atrás do placar na etapa final. De um meio de campo com dois volantes, Alison e Renato Abreu, e outro par de meias quase volantes, Cícero e Leandrinho, passou a certa altura para uma equipe com quatro atacantes. Não, não podia dar certo…
O Santos criou mais e jogou melhor no primeiro tempo. Thiago Ribeiro, mesmo mostrando um indisfarçável cansaço, perdeu duas chances, uma delas preciosa como a desperdiçada diante do Flamengo já no fim da última partida. Gabriel, titular, afobado, até levou perigo, mas fez opções erradas demais, cenário que se tornaria uma constante na sua atuação no tempo final. E foi por não ter acompanhado a descida do lateral rival Júlio César, função incumbida a ela por Claudinei, que saiu o gol carioca na etapa inicial.
Depois do tento de Elias, aos 38, o Peixe nada fez. No intervalo, esperava-se ao menos uma substituição do treinador santista na meia, onde dois jogadores estavam perdidos: Renato Abreu e Leandrinho, este, com deficiência crônica de passe, o que é crucial no sistema de jogo peixeiro. Mas o treinador não mexeu… E foi castigado.
Aos 10 da etapa final, mais uma vez Elias marcou. Quem puder ver a “movimentação” de Renato Abreu no lance nem precisa acompanhar o resto da peleja pra saber o quanto o técnico se equivocou ao não tirá-lo antes. Saiu três minutos depois, para a entrada de Neílton. Cícero, sempre ele, artilheiro da equipe, fez um belo gol aos 21 e até deu a impressão de que o Santos poderia empatar ou até virar. Mas o time foi alterado novamente. Saiu Alison, aos 24, um dos melhores do time, para a entrada de Arouca, que voltava de contusão. Dois minutos depois, finalmente Leandrinho deixou o gramado para dar lugar a Everton Costa.
Time ofensivo, com quatro atacantes. Onde? O problema da equipe era o meio de campo, setor castigado pela falta de inventividade desde a saída de Montillo, contundido,contra o Grêmio pela Copa do Brasil. Testou-se, sem muito afinco, Léo Cittadini e Pedro Castro na função em jogos anteriores. Léo, que deixou a lateral pra se tornar meia, até entrou bem no segundo tempo contra o Internacional, mas não parece opção válida para Claudinei. Assim, resta a ciclotimia: ou entra um meia quase volante ou um atacante. Deu no que deu.
As substituições mataram o Santos, que não conseguiu articular uma jogada ofensiva que prestasse. Um exemplo acabado do que não fazer para tentar ganhar uma partida. Tranquilo, o Botafogo até foi dispersivo nos contra-ataques, mas estava confortável com o ataque esquálido do time da Vila. Se não forçou, foi porque não precisou.
Claro que se deve levar em conta a quantidade de jogos em pouco tempo, mas a interferência do treinador hoje foi decisiva para que a equipe não fizesse quase nada na segunda metade do segundo tempo e fosse tão frágil no meio de campo na etapa inicial. Além disso, uma quebra de mais de um ano de invencibilidade na Vila Belmiro também dói mais no torcedor. É pragmatismo demais pra quem se acostumou a sonhar.
Gols de Cícero
O meia Cícero chegou ao centésimo gol como jogador profissional no jogo do Santos contra o Botafogo. Pelo Alvinegro, são 16, a mesma marca alcançada pelo atleta no São Paulo, mas com menos tempo de casa: foi um ano e meio no Tricolor e quase oito meses na Vila Belmiro. Confira a relação de tentos:
Bahia – 13
Figueirense – 24
Futebol alemão – 11
Fluminense – 20
São Paulo – 16
Santos – 16
Santos deixa “DNA” de lado e supera Internacional
“Eu sei que o DNA do Santos é jogar bonito, mas a torcida não gosta de ver o time namorando com a zona de rebaixamento, gosta de ver namorando com o g4. A gente tem que buscar coisa grande. Às vezes os jogadores que tem essa qualidade técnica, mas não tem rodagem, sentem um pouco.”
Era com essa declaração que o técnico Claudinei Oliveira assumia, após a partida contra o Goiás, início da maratona de quatro partidas em oito dias do Santos, sua opção por um esquema de jogo mais, digamos, cauteloso. Ontem, contra o Internacional, em Novo Hamburgo, tal opção estava evidente desde o início. Sem poder contar com Montillo e com Pedro Castro e Léo Cittadini não tendo ainda convencido, o meio de campo tinha os volantes Alan Santos e Alisson, e os “meio-volantes” Cícero e Leandrinho.
É preciso entender o contexto de transição do time, e Claudinei, ex-técnico da base, conhece o potencial dos jogadores que tem em mãos e sabe que alguns ainda vão precisar entrar em campo mais vezes para ganharem confiança. Contudo, às vezes o treinador exagera no defensivismo quando atua fora de casa, como ocorreu na partida contra o Bahia. Ontem, no entanto, teve a seu favor com a inteligência de Thiago Ribeiro à frente, decisivo nos lances capitais do jogo.
Além disso, Claudinei contou com o que talvez possa se chamar de sorte, pelo menos na peleja de ontem. Alan Santos se contundiu e deu lugar a Renê Júnior, volante que apareceu bem no início do ano mas logo foi preterido por Muricy, nunca mais voltando a atuar da mesma forma. Mais rápido que o jovem, Renê jogou uma partida interessante, a despeito de errar um ou outro passe, e deu opção de saída de bola para o Alvinegro.
Até o meio do primeiro tempo, o Internacional tentava, mas não conseguia criar oportunidades diante da sólida marcação santista. O Peixe também não criava, tocava a bola e mantinha o controle, tanto que terminou o primeiro tempo com 55% de posse da redonda. Mas, exceção feita a uma chance logo aos 2 minutos, com Giva, os visitantes eram pouco efetivos à frente, o ataque seguia isolado. Tanto que o primeiro gol saiu de um lance no qual Giva, que sairia minutos depois também contundido, cavou um escanteio por pura falta de opção do que fazer com a bola, lembrando o lendário atacante pela ponta irlandês Duff, craque nesse tipo de arte. E, da jogada, saiu o gol. Cícero deu uma casquinha e Thiago Ribeiro fez um gol de centroavante-centroavante.
A equipe continuou trocando passes e os donos da casa sofriam com um meio de campo pouco criativo, dependente de D’Alessandro. Mesmo assim, criaram uma boa chance, uma finalização de dentro da área de Otávio, defendida magistralmente por Aranha. O arqueiro ainda salvaria o Peixe direcionando uma bateria antiaérea contra o bombardeio colorado na área no fim da etapa inicial, um temporal de chuveirinhos.
Estrela de Claudinei e pênalti questionável
Dunga voltou com o mesmo time para o tempo final, mas logo promoveu duas mudanças: colocou Caio na vaga de Scocco e o meia Alex no lugar do volante Jackson. O Colorado veio pra cima, principalmente à base de cruzamentos, e tornou o clima tenso para o torcedor peixeiro, comandando as ações da peleja. Mas, aos 20, Thiago Ribeiro sofre falta. Claudinei faz sua última substituição, a primeira “não forçada”, e coloca Renato Abreu no lugar de Leandrinho. No primeiro toque na bola, na cobrança da falta aos 21, Abreu contou com a barreira malfeita dos donos da casa para fazer o segundo, seu primeiro pelo Alvinegro.
O que se viu depois disso foi um Internacional desnorteado. A afobação, combinada com uma “pilha a mais” que às vezes caracterizava a seleção treinada por Dunga, em especial naquela partida contra a Holanda, piorou e o jogo dava mostras de favas contadas. Até o juizão Marcelo de Lima Henrique ver um pênalti, aos 30, na disputa de bola entre Alison e Caio, com a bola resvalando na cabeça do atacante gaúcho e tocando seu braço. O comentarista Batista, no PFC, justificava o pênalti dizendo que a bola “ia em direção ao gol” (ia mesmo, fraca). Mas o que diz a regra?
Será concedido um tiro livre direto a equipe adversária se um jogador comete uma das seguintes seis (06) faltas de uma maneira que o árbitro considere imprudente, temerária ou com o uso de uma força excessiva:
(…)
– tocar a bola com as mãos deliberadamente (exceto o goleiro dentro de sua própria área penal).
Sobre o tema, esse post do ex-árbitro Leonardo Gaciba, para ser mais didático:
Vamos aproveitar e “matar” algumas lendas que foram criadas para a interpretação de mão. NÃO EXISTE ABSOLUTAMENTE NADA ESCRITO a respeito de:
– Falta pois desviou a bola que iria em direção ao gol;
– Falta pois se a mão não estivesse ali a bola passaria ou ficaria para outro jogador;
– Os braços estavam abertos. Então foi mão;
– Ele foi imprudente no lance por isso deve-se marcar mão;
Nesse outro post, Gaciba ainda completa:
A FIFA colocou nas interpretações das regras do jogo e diretrizes para árbitros o seguinte texto auxiliar para facilitar a compreensão do que é mão deliberada.
Lá está escrito que o árbitro deverá considerar as seguintes circunstâncias:
– O movimento da mão em direção a bola (e não da bola em direção a mão);
– A distância entre o adversário e a bola (bola que chega de forma inesperada);
– Ainda, lembra que a posição da mão não pressupõe necessariamente uma infração (deve-se analisar se o movimento ou a posição dos braços são naturais, forçados pelo deslocamento no campo de jogo ou se ali estão em uma ação de defesa);
Ou seja, Alison já subiu com o braço levantado, movimento natural de quem vai para o cabeceio, entender que ele fez um movimento intencional em um átimo de segundo após a bola resvalar em sua cabeça é muita interpretação pra qualquer um… Mas tudo bem, lance difícil, tem que se tomar a decisão na hora e numseiquelá numseiquelá numseiquelá.
Voltemos ao jogo. D’Alessandro cobrou e fez. O Inter voltou pra partida de corpo e alma e passou a acuar os visitantes, que antes já estavam colocando o pé na mesa de centro da sala e agora ficavam confinados na cozinha. E é aí que aparece novamente Aranha. Em uma bola mal recuada por Cicinho, Leandro Damião chega cara a cara com o goleiro que faz uma saída mais que perfeita evitando o gol.
Com a entrada de Rafael Moura, aos 35, Dunga consolidou a opção preferencial por cruzamentos incessantes na área santista para buscar o tento de empate. Até porque, na hora do aperto, todo mundo apela para um pouco de Muricybol… Foram 40 cruzamentos colorados na partida, 33 errados, contra 6 do Santos, de acordo com o Footstats.
A peleja ainda reservaria a expulsão do arredio Fabrício, uma chance desperdiçada por Caio e uma bola na trave de Thiago Ribeiro. Em resumo, contaram para o Santos ontem a estrela/sorte do técnico, o jogo taticamente perfeito de Ribeiro e a grande forma de Aranha. Agora, ainda com uma partida a menos a ser disputada contra o Náutico, o Santos está em sétimo lugar, a seis pontos do G-4 e distante nove da zona de baixo. Vitória parcial do estilo pragmático.