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Portuguesa X Santos – relembre cinco vitórias do Peixe sobre a Lusa

O Santos joga contra a Portuguesa no Pacaembu neste domingo, às 16h, em um jogo no qual é mandante mas terá a maior parte da torcida. No histórico do confronto, o Peixe leva larga vantagem sobre o rival: são 239 jogos, com 113 vitórias peixeiras e 67 lusas, com 59 empates. Em campeonatos paulistas, são 157 pelejas, com 72 triunfos alvinegros, 47 lusos e 38 empates.

Contudo, no Pacaembu, ambos já se enfrentaram 44 vezes e é a Lusa que tem pequena vantagem: 17 vitórias contra 16 do Santos e 11 empates. Isso, aliás, se relaciona a um fator que precisa ser lembrado quando se analisam os confrontos entre o Peixe e equipes do Trio de Ferro: a maciça maioria das pelejas foi disputada em São Paulo, o que, na prática, significava uma inversão do mando de campo, prejudicando o Alvinegro nas estatísticas gerais.

Mesmo assim, o Peixe tem no Pacaembu um palco no qual mais triunfou do que saiu derrotado. Foi lá, aliás, que conquistou a Libertadores de 2011, por exemplo. No estádio, o Peixe disputou 493 partidas, vencendo 210, perdendo 151 e saindo com o empate 132 vezes.

Veja abaixo cinco grandes vitórias do Santos sobre a Lusa. Claro que não entra nessa lista o jogo mais polêmico entre os dois, o empate em 0 a 0 da decisão do estadual de 1973, com a disputa de pênaltis encerrada antes da hora pelo árbitro Armando Marques, o que resultou na divisão do título pelos dois times.

 

1 – Santos 10 X 0 Portuguesa (campeonato paulista de 1928)

Com cinco gols do atacante Wolf, dois de Feitiço, dois de Camarão e um de Evangelista, o Peixe goleou os rubro-verdes na Vila Belmiro em partida válida pelo campeonato paulista de 1928. O Alvinegro terminou a competição como vice-campeão, mesma colocação dos estaduais de 1927 e 1929. Esta é a maior goleada no confronto entre os dois, no entanto, a maior derrota sofrida pelo Alvinegro na era profissional foi para os lusos, 8 a 0 no paulista de 1955.

 

2 – Portuguesa 0 X 6 Santos (campeonato paulista de 1957)

No Pacaembu, mando de campo da equipe paulistana, o Peixe goleou por 6 a 0, em jogo do campeonato paulista de 1957. Após ser campeão em 1955 e 1956, o Alvinegro terminou a competição como vice, um ponto atrás do São Paulo, e superou os rubro-verdes em jogo da chamada Série Azul, que reunia os dez melhores times do primeiro turno do estadual e definia o campeão.

Naquele dia, Pelé marcou duas vezes, Dorval também fez dois, Jair Rosa Pinto anotou um e Afonsinho deixou o seu.

 

3 – Santos 4 X 0 Portuguesa (campeonato paulista de 1978)

Entre 1973 e 1982, a Portuguesa não soube o que era vencer o Santos. Foram 14 partidas de invencibilidade do Alvinegro e uma destas foi no Morumbi, no dia 9 de setembro de 1978, ocasião em que a primeira geração dos meninos da Vila não tomou conhecimento da equipe dirigida por Urubutão e que tinha Marinho Perez.

Um público de 40 mil pessoas viu João Paulo marcar dois tentos, um de Juary e outro de Pita, com Ailton Lira passeando pelo meio de campo. Detalhe para o belo terceiro gol, marcado pelo ponta João Paulo, e pela bela cominação no quarto tento, feito pelo dez Pita.


4 – Santos 2 X 0 Portuguesa (campeonato paulista de 2006)

Disputado por meio da fórmula de pontos corridos em turno único, o campeonato paulista de 2006 foi decidido na última rodada. Ao Santos, que disputava o título contra o São Paulo, bastava uma vitória simples contra a Portuguesa, na Vila Belmiro. A Lusa precisava vencer para escapar do primeiro rebaixamento no estadual da sua história.

A vitória por 2 a 0 deu ao Alvinegro o título depois de um jejum de 22 anos. O Peixe tinha saído da fila com o Brasileiro de 2002, sendo campeão de novo em 2004, mas ainda não tinha conquistado um estadual depois de 1984. O grito de campeão saiu da garganta do torcedor depois de um gol de Cléber Santana e outro de Leonardo, contra.


5 – Santos 3 X 0 Portuguesa (campeonato paulista de 2011)

No campeonato paulista de 2011, o Santos contava naquela partida com os retornos de Neymar, Elano e Léo e foi ali, depois de uma parada do carnaval, que o garoto anotou seus primeiros gols pelo Peixe no ano, já que havia servido a seleção sub-20 no sul-americano da categoria em janeiro.

A equipe, então comandada pelo interino Marcelo Martelotte, que havia entrado no lugar de Adílson Batista, venceu a Portuguesa na Vila Belmiro por 3 a 0, dois de Neymar e um de Léo, que contou com a assistência do menino. Vale a pena relembrar.

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Cinco vitórias memoráveis do Santos sobre o Palmeiras no “clássico da saudade”

Santos e Palmeiras disputam amanhã o chamado “clássico da saudade”, referência ao confronto que era um dos maiores do país na Era de Ouro do futebol nacional, a década de 60. Trata-se de um clássico com muita história, e é nela que se pode confiar para que um bom jogo aconteça.

A primeira partida entre os dois data de 3 de outubro de 1915 e foi realizada no Velódromo de São Paulo. Goleada alvinegra sobre o então Palestra Itália por 7 a 0, com três gols de Ary Patusca, dois de Anacleto Ferramenta, um de Aranha e outro de Arnaldo Silveira, autor do primeiro gol oficial da história do Santos. O Verdão devolveria a humilhante goleada em 1932, com um 8 a 0 em uma peleja na qual o Peixe terminou com nove jogadores, com dois gols de Romeu Pelliciari, dois de Imparato III, além de anotações de Lara, Sandro, Avelino e Golliardo.

Desde aqueles idos tempos, foram diversos jogos entre os dois, alguns eliminatórios e muitos que decidiram títulos mas que não eram finais propriamente ditas, com exceção das partidas extras que definiram o chamado supercampeonato paulista de 1959, com vitória do Palmeiras.

Abaixo, algumas das vitórias memoráveis do Santos no “clássico da saudade”:

  • Santos 7 X 6 Palmeiras (Rio-São Paulo de 1958)

Na manchete da Gazeta Esportiva, o “espetáculo pirotécnico” do clássico da saudade

Talvez a partida mais emocionante entre os dois clubes e uma das maiores da história. Dizem que cinco infartos ocorreram por conta daquela peleja, com três reviravoltas no placar. No Pacaembu, 43.068 viram Urias marcar o primeiro tento do jogo aos 18 minutos. A reação peixeira não tardou e o menino Pelé, 17 anos, empatou para Pagão virar, aos 25. Nardo empatou somente um minuto depois e o que se viu a partir daí foi um atropelo santista até o final do primeiro tempo.

O time palmeirense era inferior tecnicamente a uma equipe que tinha uma linha ofensiva espetacular: Dorval, Jair Rosa Pinto, Pagão, Pelé e Pepe, responsáveis pela histórica marca de gols no campeonato paulista de 1958. Foram 143 tentos em 30 partidas, 58 só do adolescente Pelé. Após o empate, Dorval, Pepe e Pagão fizeram 5 a 2 ainda nos primeiros 45 minutos.

Nesta matéria do Esporte Espetacular, Zito conta que desceu para o vestiário dizendo que eles tinham que marcar o maior escore da história, e Pepe conta que o bicho, pago à época com o dinheiro da renda da partida, já estava sendo separado para os atletas santistas. Mazzola recorda que o goleiro Edgar chegou chorando ao vestiário, se recusando a voltar para a etapa final. Oswaldo Brandão colocou Vitor e o Palmeiras voltou outro depois do intervalo.

E em 18 minutos, um motivado Verdão virou a partida pra cima do Peixe com Paulinho, de pênalti, aos 16; Mazzola, aos 20 e aos 28, e Urias, aos 34. Um 6 a 5 que parecia sacramentar uma reação impossível, mas o impossível não queria descansar naquela peleja. Pepe voltou a empatar aos 38, de cabeça, e, aos 43, consolidou a última virada da partida.

  • Santos 6 X 1 Palmeiras (Campeonato Paulista de 1982)

Boa parte da década de 80 não foi gloriosa nem para Santos, nem para o Palmeiras. O Santos foi campeão paulista em 1984, mas o Verdão amargou o período sem um título. Os rivais São Paulo e Corinthians decidiram o campeonato daquele ano, vencido pelo Alvinegro paulistano.

O regulamento da competição previa que o vencedor de cada turno iria para a final e o Santos não chegou perto de vencer um ou outro. O Palmeiras ainda fez uma campanha melhor no segundo turno, terminando em terceiro, mas quando topou o Peixe em novembro, foi massacrado.

O 6 a 1 peixeiro teve como principais artilheiros João Paulo e Serginho Dourado, que marcaram dois gols cada um. Roberto César e Paulinho Batistote completaram para o Santos, comandado por formiga, enquanto Jaime Boni descontou para o Palmeiras de Rubens Minelli.

  • Santos 5 X 1 Palmeiras (Campeonato Brasileiro de 2006)

O Santos, na 22ª rodada do Brasileiro de 2006, disputava o título e estava a quatro pontos do São Paulo. Embora tenha perdido fôlego no final da competição, a equipe conseguiu ainda se classificar para a Libertadores do ano seguinte. Já o Palmeiras lutava para se distanciar da zona do rebaixamento, mas vinha em uma boa sequência de onze partidas sem perder, sob o comando de Tite.

Mas, na Vila Belmiro, o Peixe massacrou o rival. O zagueiro Luiz Alberto marcou duas vezes, aos 13 e aos 24. Juninho Paulista descontou na primeira etapa, mas no segundo tempo o Alvinegro atropelou. Wellington Paulista marcou aos 15 e aos 22, e Jonas completou aos 25. Um 5 a 1 que desnorteou o Verdão. Após perder para o Santa Cruz, 18 dias depois, Tite entrou em conflito com o diretor Salvador Hugo Palaia e terminou como o último time antes da zona do rebaixamento naquele 2006.

  • Palmeiras 2 X 3 Santos (Campeonato Paulista de 2000)

Sem chegar a uma final de Paulista havia 16 anos, o Santos disputava a segunda partida da semifinal no Pacaembu contra o forte Palmeiras. Na primeira peleja, no Morumbi, o Verdão chegou mais perto da vitória, mas um então jovem Fábio Costa evitou que a partida saísse do zero a zero.

A segunda partida também foi no estádio da Zona Sul e o Alviverde, que tinha a vantagem do empate, conseguiu se impor ao marcar com Argel, aos 32 do primeiro tempo, e Euller, aos 8 da etapa final. Aquela partida disputada pela manhã, contudo, se tornaria histórica para os santistas.

Com uma bela finalização, Eduardo Marques diminuiu para o Peixe aos 23 e Anderson Luiz empatou aos 32. O Palmeiras recuou buscando manter o empate que lhe bastava e o Santos partiu para cima, sem muita tática ou técnica. E, após um cruzamento de Robert, Claudiomiro dividiu com Marcos e cabeceou para o gol, com a bola ficando limpa para Dodô, caído, marcar o gol da virada. O Peixe do técnico Giba chegava à final, a qual perderia para o São Paulo.

  • Santos 2 X 1 Palmeiras (Campeonato Paulista de 2009)

O Palmeiras era favorito nas semifinais do Paulista, havia feito a melhor campanha na primeira fase, e o Santos era uma equipe em formação. Vágner Mancini já aproveitava Paulo Henrique Ganso como titular e tinha promovido naquela competição a estreia de Neymar como profissional.

A equipe de Vanderlei Luxemburgo havia perdido a primeira na Vila por 2 a 1 e saiu perdendo também no Parque Antarctica logo aos 17, com Madson, um dos destaques daquela noite, marcando para os santistas. No segundo tempo, Mauricio Ramos fez pênalti em Neymar, sendo expulso, algo não muito incomum para o atleta. Kléber Pereira converteu e a vantagem peixeira se ampliou.

O Verdão ainda respiraria com um gol de Pierre, uma falha monumental de Fábio Costa. A peleja teria ainda a inusitada confusão entre Diego Souza e Domingos, resultando na expulsão dos dois. O Santos foi à final, mas perdeu a decisão para o Corinthians.

Na última partida entre os dois, pelo Brasileiro de 2012, o Santos levou a melhor: 3 a 1, em noite de homenagem a Joelmir Beting.

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Santos centenário: o time que até hoje faz sonhar

Falar dos cem anos do Santos atendo-se às glórias conquistadas pelo clube é um tarefa quase impossível. Não só pela quantidade e pelos números incríveis da equipe profissional que mais marcou gols na face da Terra, mas também pela forma com que muitos títulos foram conquistados. E também por aquelas equipes que não obtiveram títulos e mesmo assim fizeram história, como o time que marcou pela primeira vez cem gols no futebol brasileiro em uma competição. Cem gols em 16 partidas, uma média espetacular de 6,25 gols alcançada em 1927, oito anos antes do seu primeiro campeonato paulista. Na Vila Belmiro, sempre foi assim, a arte precede aos títulos.
Pelé e Clodoaldo: o futebol agradece ao Santos
Mas, além da história do clube, existe aquela relação única que cada torcedor constrói com seu time. A minha começou mesmo antes de eu nascer, quando o meu avô materno, nascido no Sul de Minas, mudou para o litoral paulista. E um dos motivos da mudança era o fato de ele ser torcedor… do Santos. Certamente foi a narração de pelejas épicas e repletas de gols que fez seo Benedito torcer para um time que, àquela altura, nunca havia sido campeão além dos domínios da Baixada. E que, mais tarde, graças ao futebol bem jogado, conquistaria outros tantos torcedores em todo o mundo, parando guerras e dando à seleção brasileira alguns dos jogadores responsáveis pela época de ouro do futebol brasileiro. Desde os protagonistas Zito e Pelé em 1958 até os atores principais do gol mais bonito de todas as Copas em 1970, que começou com os dribles desconcertantes do santista Clodoaldo, passou pela assistência perfeita de Pelé e culminou na finalização indefensável do peixeiro Carlos Alberto Torres.
Sim, porque, diferentemente de times que surgem em capitais de estado e tem somente que superar concorrentes da própria cidade para se sobressair, contando com o inevitável apoio econômico e político (de dentro e fora do mundo da bola), o Peixe – apelido dado pelos rivais justamente para menosprezar sua origem – teve que jogar muita bola para se tornar o que é. Foi preciso subverter a lógica dentro dos gramados, arrebatando pela beleza dos lances desenhados por artistas incomuns, para também subverter a lógica que o destinaria a ser um time pequeno. O Alvinegro tornou-se gigante não pela sua natureza, geográfica ou econômica, e sim por representar em campo a essência do jogo. 
A provação
Mas nem tudo foram flores nesses cem anos. Até porque, para uma trajetória vitoriosa, a derrota e o sofrimento são elementos que ajudam a formar o caráter, do torcedor e de um time. Desde a primeira vez que pisei na Vila Belmiro – levado pelo meu pai, aos sete anos de idade, em um Santos e Ponte Preta de 1982 –, até hoje, um período em particular foi terrível: a fila de 18 anos sem título. E para alguém que está em fase de crescimento em um período como esse, a crueldade do torcedor rival é muito mais marcante, porque se junta a todas as outras agruras de criança e de adolescente. Na Baixada, onde o Santos é o mais odiado pelos rivais, o peixeiro se tornava alvo de gozação a cada bate-papo de futebol. Quando o time perdia – para qualquer adversário – volta e meia escutavam-se rojões. Fora da região, a tarefa era suportar o desdém de muitos que fingiam que o time não existia ou que era “coisa de historiador”. Para o santista, a fila era mais que uma provação, pois havia o fardo da gloriosa história para carregar, que não se refletia nas quatro linhas.
Um personagem histórico, uma partida inesquecível
Não que não tenha havido chance de o clube sair da fila. Depois de algumas formações ridículas da segunda metade dos anos 80 e da primeira metade dos 90, o Santos se reergueu. E, por destino, foi pelos pés de um camisa dez. Não, de um camisa Dez, com caixa alta. Giovanni comandou uma equipe que tinha desde jogadores “renegados” como Marcos Adriano e Macedo, até jovens e não tão jovens esperanças como Narciso, Jamelli, Edinho, Wagner, Carlinhos, Marcelo Passos, Robert e a arma surpresa Camanducaia. O meia também foi protagonista de uma das maiores partidas da rica história alvinegra e que foi, seguramente, a maior atuação individual de um boleiro que vi ao vivo.
Mas não foi ali que saímos da fila. Deixei o Pacaembu triste naquela segunda partida da final do Brasileiro de 1995, mas mesmo assim fui saudar os vice-campeões na Praça Independência, em Santos. Alguns jogadores foram até lá prestigiar aquela torcida que considerava aqueles os verdadeiros campeões brasileiros. Mas fui ali não para lamentar a arbitragem, e sim para agradecer àqueles que tinham devolvido a autoestima ao santista, que fizeram daquelas lembranças gloriosas, que eu não tinha vivido, uma realidade. Uma realidade que não se fez presente pelo título, que ao final não veio, mas pela beleza, pelo futebol bem jogado que honrava a mística da camisa alvinegra que chegou a parecer perdida.
A beleza tinha voltado, mas a zombaria continuava. E não cessou com o título do Rio-São Paulo de 1997. Nem com a Copa Conmebol de 1998. Era preciso um título mais significativo. Um Paulista, que na época tinha mais charme que hoje, ou um Brasileiro… O Estadual quase veio após uma partida enfartante em que o Peixe virou contra o Palmeiras de Felipão nas semifinais, um épico 3 a 2 depois de estar perdendo por 2 a 0 até os 23 minutos do segundo tempo. Mas, na final, o time perdeu o título para o São Paulo.
No ano seguinte, nova decepção. Desta vez, com um gol de Ricardinho no último minuto da semifinal do Paulista. Ali, antes mesmo de o gol acontecer, um pressentimento me assaltava. Na outra partida da semifinal, Ponte Preta e Botafogo jogavam para saber quem seria o outro postulante ao título. Enquanto a Ponte era a finalista, para mim era lógico superar a tradicional equipe campineira e sair da fila contra ela. O Corinthians já tinha feito isso, o São Paulo já tinha a derrotado em outra final e o Palmeiras faria o mesmo sete anos depois. Mas quando o Botafogo garantiu sua ida à final, temi pelo pior. Faltavam cinco minutos para o jogo acabar. Para mim, era certo: o Santos não sairia da fila contra o time do interior. Uma fila de 17 anos não acaba assim. Aquela certeza tétrica me fez esperar pelo pior, que veio ao fim daqueles doídos 90 minutos. Decepção era pouco. Chovia na Baixada e naquele dia até os rivais guardaram os rojões em respeito à dor alheia. 
A redenção
Em 2002, o ano também não parecia promissor. A desclassificação do time comandado por Celso Roth obrigou o Santos a viver o maior período de inatividade de sua história. Veio Emerson Leão, treinador então desacreditado, e o elenco contava com outros atletas que não haviam emplacado, como Paulo Almeida, Elano, Renato… André Luís, zagueiro-vilão do Paulista de 2001, e dois moleques como Diego, que ainda era só uma promessa, e Robinho, que nem isso era. E o final, finalmente, foi feliz.
Não foi só um título. Não foi só uma quebra de jejum. Foi um futebol que na fase final mostrou a essência da história santista: era o encantamento, a arte, o arrebatamento. O favorito “Real Madrid do Morumbi” foi derrubado; o futebol-força gaúcho do artilheiro da competição sucumbiu; e os algozes do ano anterior caíram diante das pedaladas do menino Robinho, que ainda jogou ao chão outro marcador no segundo gol daquela final e chamou dois jogadores de seleção para dançar no terceiro. E eu, que imaginei aquele momento durante tanto tempo achando que iria me emocionar, chorar, simplesmente não conseguia parar de rir. Porque aquele era um futebol alegre de fato, do tipo que sempre fez o santista e o amante legítimo da bola sorrir. O gigante havia voltado.
A dupla que deu continuidade à lenda
E, desde então, o Santos tem mostrado sua grandeza quase a todo ano. Vice do Brasileiro e da Libertadores em 2003, campeão brasileiro em 2004, campeão paulista em 2006 e 2007 (ano em que foi vice do Brasileiro); vice paulista em 2009, campeão paulista de 2010 e 2011, da Copa do Brasil em 2010 e da Libertadores em 2011. Nos dois últimos anos, deu ao mundo lindos gols e belos lances com a dupla Neymar e Ganso, além dos coadjuvantes talentosos que cativaram não só os torcedores como todos aqueles que gostam do bom futebol. Um Neymar “imparável”, como definiu um locutor mexicano, assombrando não só pela sua habilidade, mas também pela decisão de remar contra a maré e permanecer no Brasil diante de toda sorte de investidas estrangeiras. E, quando a técnica não foi suficiente e as adversidades apareceram, a raça resolveu, como quando Ganso encarnou Almir Pernambuquinho na final do Paulista, contra o Santo André. Eram novos capítulos de uma história que começou a ser escrita naquele 14 de abril de 1912, e que faz parte da minha vida antes de eu existir. Que faz com que o torcedor tenha orgulho do seu clube até mesmo quando ele não vence ou ganha títulos.
E é no centenário, nessa efeméride única, que se lembra daquilo que se viu e do que apenas se ouviu ou leu. E que sempre fez sonhar. É tempo de recordar daqueles que me apresentaram ao futebol, do meu pai que me levou ao campo sagrado da Vila Belmiro pela primeira vez e que ainda hoje me acompanha nas sagradas arquibancadas. Do meu avô que não conheci e que deve estar lá, junto com meu primo Salvador, fanático peixeiro que levou a bandeira do clube para o Além, onde deve estar apreciando o balé boleiro de estrelas como Araken Patusca, Feitiço, Camarão, Antoninho, Jair Rosa Pinto, Mauro Ramos de Oliveira, Ramos Delgado, Pagão, Tite, Vasconcelos, Toninho Guerreiro, Luis Alonso Perez e tantos outros que fizeram não só o Santos, mas o futebol brasileiro, ser o que é.
Como bem disse Mario Sergio Cortella, seu papel de filósofo também se relaciona com o fato de ser torcedor do Santos. Porque filosofar é ir além do óbvio, de buscar o inesperado. E o Santos, durante esses cem anos, foi muito além do óbvio. Que siga assim por mais muitos centenários.
Outros tantos virão para ver…
Também publicado no Futepoca.

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Há 52 anos, o Santos vencia pela primeira vez o Rio-São Paulo

Hoje faz 52 anos que o Santos venceu pela primeira vez uma edição do Torneio Rio-São Paulo, no ano de 1959. Naquela ocasião, a competição teve dez participantes. Além do Peixe, Palmeiras, São Paulo, Corinthians, Portuguesa, Flamengo, Vasco, Fluminense, Botafogo e América-RJ disputaram em turno único o título.

A estreia santista foi contra o Botafogo, no Rio de Janeiro, uma vitória por 4 a 2. Na última rodada, outro confronto com um time do Rio valeu a taça. O Alvinegro enfrentou o Vasco, que tinha 12 pontos, um a mais que o Peixe (à época, a vitória valia dois pontos), e precisava da vitória para conseguir um título inédito.

O Vasco tinha o goleiro Barbosa, considerado por muito tempo um dos culpados pela derrota brasileira na Copa de 1950. No vídeo abaixo, pode-se ver que, mesmo aos 38 anos, o arqueiro ainda fazia defesas importantes, mostrando segurança nas bolas aéreas e também quando se deparava diante de artilheiros natos. O Vasco era campeão do Rio-São Paulo e do campeonato estadual de 1958, este um dos mais equilibrados da história. Como três equipes terminaram empatadas, foram precisos dois triangulares para definir o campeão. Os vascaínos chamam o título daquele ano de super-super campeonato.

Mas o Santos também tinha tido um belo ano em 1958, conquistando o título paulista (Pelé foi o artilheiro da competição com incríveis 58 gols) e com três representantes na seleção campeão do mundo daquele ano: o próprio Pelé, Zito e Pepe. Em 1959, o esquadrão santista contava com o veterano Jair Rosa Pinto, que, aos 38 anos, comandava garotos como Coutinho, que só completaria 16 anos pouco menos de um mês depois daquela decisão.

A partida foi disputada no Pacaembu, com um público estimado de 21 mil pagantes. O primeiro tempo terminou 0 a 0 e foi só no segundo que o garoto Coutinho abriu o placar para a equipe peixeira. Pelé faria o segundo e Coutinho fecharia a vitória santista. Era o primeiro Rio-São Paulo conquistado pelo Santos, que é, junto com Corinthians e Palmeiras, o clube que mais vezes levantou a taça, cinco vezes.

E, claro, vale ver o vídeo abaixo:

Ficha técnica

Santos 3 X 0 Vasco Data: 17/05/1959
Local: Pacaembu
Árbitro: Frederico Lopes
Renda: Cr$ 905.695,00
Público estimado: 21.000 pagantes
Santos - Laercio, Getúlio, Mourão, Ramiro, Álvaro, Zito (Fiote), 
Dorval, Jair, Coutinho, Pelé e Pepe
Técnico: Lula
Vasco - Barbosa, Viana, Coronel, Dario, Russo, Laerte, Sabará, 
Robson, Zé Henrique (Cabrita), Rubens e Roberto Peniche (Osvaldo)
Técnico : Gradim
Gols: Coutinho (2) e Pelé

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