Arquivo da tag: Zito

Morre José Ely de Miranda, o Zito, eterno capitão do Santos e da seleção

Zito, eterno capitão do Santos e da seleção brasileira

Zito, eterno capitão do Santos e da seleção brasileira

A informação foi dada na noite deste domingo (14) no programa Mesa Redonda, da TV Gazeta. José Ely de Miranda, o Zito, capitão do Santos e da seleção brasileira, faleceu aos 82 anos.

Contratado junto ao Taubaté em 1952, Zito atuou no Peixe até sua aposentadoria, em 1967. Sua moral era tanta no time que era um dos únicos que dava broncas no Rei do Futebol, Pelé, tanto na Vila quanto nos jogos do Brasil.

Multicampeão, foi bicampeão mundial com a seleção brasileira em 1958 e 1962 e com o Peixe em 1962 e 1963. Conquistou quatro títulos brasileiros, nove campeonatos paulistas e quatro torneios Rio-São Paulo com a camisa do Alvinegro.

Em agosto de 2014, o eterno capitão da Vila havia sofrido um AVC, tendo alta em agosto. Nosso profundos sentimentos à família e amigos por essa perda para eles e para todo admirador do futebol bem jogado.

Deixe um comentário

Arquivado em Ídolos, Década de 50, Década de 60, futebol, História, Santos

Há 50 anos, o Santos de Pelé batia o Botafogo de Garrincha por 5 a 0

Nesta semana, o nome de Mané Garrinha veio à tona, por conta de mais uma das imposições da Fifa, que agora estaria exigindo que o nome do estádio de Brasília fosse alterado para a Copa das Confederações e para a Copa do Mundo. De acordo com a publicação, a entidade argumenta que as competições, de “interesse internacional”, exigem que se mantenha “consistência nos nomes dos estádios”.

A se confirmar essa intenção da Fifa, é realmente uma dessas atitudes completamente absurdas pelo que Garrincha representou para o futebol brasileiro e mundial. Quando a seleção contou com ele e Pelé juntos, jamais saiu derrotada de campo, em uma época de outro dos nossos boleiros. E, quando atuaram um contra o outro, propiciaram grandes espetáculos. Nesta semana, no dia 2 de abril, completaram-se 50 anos de uma partida memorável para os alvinegros santistas.

Era a terceira peleja da final da Taça Brasil (Campeonato Brasileiro) de 1962, embora disputada em 1963. No primeiro jogo, no Pacaembu, o Peixe havia batido os botafoguenses por 4 a 3, mas, na volta, foi derrotado por 3 a 1 no Maracanã, o que provocou a partida desempate, no mesmo Maracanã.

Em campo, simplesmente doze atletas campeões do mundo com a seleção brasileira em 1962. Pelo lado santista, Gilmar, Mauro, Zito, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Do lado carioca, Zagallo, Nílton Santos, Garrincha, Amarildo e Rildo.

Time campeão de 1962 - Em pé, Lima, Zito, Dalmo, Calvet e Mauro. Agachados, Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe

Time campeão de 1962 – Em pé, Lima, Zito, Dalmo, Calvet e Mauro. Agachados, Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe

O que se viu naquele dia foi um jogo avassalador do time da Vila Belmiro. Em relação à partida anterior, uma alteração que fez a diferença, como relata Odir Cunha na obra Time dos Sonhos. Por orientação de Lula ou do capitão Zito, de acordo com a versão, Dorval passou a marcar Zagallo. Coutinho conta a respeito no livro. “Nós conversamos no túnel, todos abraçados antes de entrar em campo. Falamos: o Dorval tem que encostar no Zagallo, o Zagallo está saindo e o Amarildo está caindo nas costas e está ficando vazio ali. Aí o Dorval encostou no Zagallo, fomos lá e fizemos um, dois, três, quatro, cinco e poderíamos ter feito quinhentos. O Santos tinha uma coisa: dificilmente perdia duas vezes seguidas.”

À época, a imprensa carioca, antes esperançosa de que o Botafogo pudesse vencer o Peixe e ir à Libertadores (só o campeão brasileiro representava o país), teve que saudar o Santos, com muitos afirmando que se tratava da maior exibição de uma equipe no Maracanã.

Ficha técnica

Botafogo 0 X 5 Santos

Local: Maracanã

Árbitro: Eunápio de Queirós

Público: 70.324

Botafogo: Manga, Rildo, depois Joel, Zé Maria, Nilton Santos (depois Jadir) e Ivan; Ayrton e Édison; Garrincha, Quarentinha, Amarildo e Zagallo (depois Jair). Técnico: Marinho Rodrigues.

Santos: Gilmar, Lima, Mauro, Calvet e Dalmo; Zito e Mengálvio; Dorval, Coutinho (depois Tite), Pelé e Pepe. Técnico: Lula.

Gols: Dorval aos 24′, Pepe aos 39′ do primeiro tempo; Coutinho aos 9′, Pelé aos 30′e 35′ do segundo tempo.

1 comentário

Arquivado em Década de 60, futebol, História, Santos

Cinco vitórias memoráveis do Santos sobre o Palmeiras no “clássico da saudade”

Santos e Palmeiras disputam amanhã o chamado “clássico da saudade”, referência ao confronto que era um dos maiores do país na Era de Ouro do futebol nacional, a década de 60. Trata-se de um clássico com muita história, e é nela que se pode confiar para que um bom jogo aconteça.

A primeira partida entre os dois data de 3 de outubro de 1915 e foi realizada no Velódromo de São Paulo. Goleada alvinegra sobre o então Palestra Itália por 7 a 0, com três gols de Ary Patusca, dois de Anacleto Ferramenta, um de Aranha e outro de Arnaldo Silveira, autor do primeiro gol oficial da história do Santos. O Verdão devolveria a humilhante goleada em 1932, com um 8 a 0 em uma peleja na qual o Peixe terminou com nove jogadores, com dois gols de Romeu Pelliciari, dois de Imparato III, além de anotações de Lara, Sandro, Avelino e Golliardo.

Desde aqueles idos tempos, foram diversos jogos entre os dois, alguns eliminatórios e muitos que decidiram títulos mas que não eram finais propriamente ditas, com exceção das partidas extras que definiram o chamado supercampeonato paulista de 1959, com vitória do Palmeiras.

Abaixo, algumas das vitórias memoráveis do Santos no “clássico da saudade”:

  • Santos 7 X 6 Palmeiras (Rio-São Paulo de 1958)

Na manchete da Gazeta Esportiva, o “espetáculo pirotécnico” do clássico da saudade

Talvez a partida mais emocionante entre os dois clubes e uma das maiores da história. Dizem que cinco infartos ocorreram por conta daquela peleja, com três reviravoltas no placar. No Pacaembu, 43.068 viram Urias marcar o primeiro tento do jogo aos 18 minutos. A reação peixeira não tardou e o menino Pelé, 17 anos, empatou para Pagão virar, aos 25. Nardo empatou somente um minuto depois e o que se viu a partir daí foi um atropelo santista até o final do primeiro tempo.

O time palmeirense era inferior tecnicamente a uma equipe que tinha uma linha ofensiva espetacular: Dorval, Jair Rosa Pinto, Pagão, Pelé e Pepe, responsáveis pela histórica marca de gols no campeonato paulista de 1958. Foram 143 tentos em 30 partidas, 58 só do adolescente Pelé. Após o empate, Dorval, Pepe e Pagão fizeram 5 a 2 ainda nos primeiros 45 minutos.

Nesta matéria do Esporte Espetacular, Zito conta que desceu para o vestiário dizendo que eles tinham que marcar o maior escore da história, e Pepe conta que o bicho, pago à época com o dinheiro da renda da partida, já estava sendo separado para os atletas santistas. Mazzola recorda que o goleiro Edgar chegou chorando ao vestiário, se recusando a voltar para a etapa final. Oswaldo Brandão colocou Vitor e o Palmeiras voltou outro depois do intervalo.

E em 18 minutos, um motivado Verdão virou a partida pra cima do Peixe com Paulinho, de pênalti, aos 16; Mazzola, aos 20 e aos 28, e Urias, aos 34. Um 6 a 5 que parecia sacramentar uma reação impossível, mas o impossível não queria descansar naquela peleja. Pepe voltou a empatar aos 38, de cabeça, e, aos 43, consolidou a última virada da partida.

  • Santos 6 X 1 Palmeiras (Campeonato Paulista de 1982)

Boa parte da década de 80 não foi gloriosa nem para Santos, nem para o Palmeiras. O Santos foi campeão paulista em 1984, mas o Verdão amargou o período sem um título. Os rivais São Paulo e Corinthians decidiram o campeonato daquele ano, vencido pelo Alvinegro paulistano.

O regulamento da competição previa que o vencedor de cada turno iria para a final e o Santos não chegou perto de vencer um ou outro. O Palmeiras ainda fez uma campanha melhor no segundo turno, terminando em terceiro, mas quando topou o Peixe em novembro, foi massacrado.

O 6 a 1 peixeiro teve como principais artilheiros João Paulo e Serginho Dourado, que marcaram dois gols cada um. Roberto César e Paulinho Batistote completaram para o Santos, comandado por formiga, enquanto Jaime Boni descontou para o Palmeiras de Rubens Minelli.

  • Santos 5 X 1 Palmeiras (Campeonato Brasileiro de 2006)

O Santos, na 22ª rodada do Brasileiro de 2006, disputava o título e estava a quatro pontos do São Paulo. Embora tenha perdido fôlego no final da competição, a equipe conseguiu ainda se classificar para a Libertadores do ano seguinte. Já o Palmeiras lutava para se distanciar da zona do rebaixamento, mas vinha em uma boa sequência de onze partidas sem perder, sob o comando de Tite.

Mas, na Vila Belmiro, o Peixe massacrou o rival. O zagueiro Luiz Alberto marcou duas vezes, aos 13 e aos 24. Juninho Paulista descontou na primeira etapa, mas no segundo tempo o Alvinegro atropelou. Wellington Paulista marcou aos 15 e aos 22, e Jonas completou aos 25. Um 5 a 1 que desnorteou o Verdão. Após perder para o Santa Cruz, 18 dias depois, Tite entrou em conflito com o diretor Salvador Hugo Palaia e terminou como o último time antes da zona do rebaixamento naquele 2006.

  • Palmeiras 2 X 3 Santos (Campeonato Paulista de 2000)

Sem chegar a uma final de Paulista havia 16 anos, o Santos disputava a segunda partida da semifinal no Pacaembu contra o forte Palmeiras. Na primeira peleja, no Morumbi, o Verdão chegou mais perto da vitória, mas um então jovem Fábio Costa evitou que a partida saísse do zero a zero.

A segunda partida também foi no estádio da Zona Sul e o Alviverde, que tinha a vantagem do empate, conseguiu se impor ao marcar com Argel, aos 32 do primeiro tempo, e Euller, aos 8 da etapa final. Aquela partida disputada pela manhã, contudo, se tornaria histórica para os santistas.

Com uma bela finalização, Eduardo Marques diminuiu para o Peixe aos 23 e Anderson Luiz empatou aos 32. O Palmeiras recuou buscando manter o empate que lhe bastava e o Santos partiu para cima, sem muita tática ou técnica. E, após um cruzamento de Robert, Claudiomiro dividiu com Marcos e cabeceou para o gol, com a bola ficando limpa para Dodô, caído, marcar o gol da virada. O Peixe do técnico Giba chegava à final, a qual perderia para o São Paulo.

  • Santos 2 X 1 Palmeiras (Campeonato Paulista de 2009)

O Palmeiras era favorito nas semifinais do Paulista, havia feito a melhor campanha na primeira fase, e o Santos era uma equipe em formação. Vágner Mancini já aproveitava Paulo Henrique Ganso como titular e tinha promovido naquela competição a estreia de Neymar como profissional.

A equipe de Vanderlei Luxemburgo havia perdido a primeira na Vila por 2 a 1 e saiu perdendo também no Parque Antarctica logo aos 17, com Madson, um dos destaques daquela noite, marcando para os santistas. No segundo tempo, Mauricio Ramos fez pênalti em Neymar, sendo expulso, algo não muito incomum para o atleta. Kléber Pereira converteu e a vantagem peixeira se ampliou.

O Verdão ainda respiraria com um gol de Pierre, uma falha monumental de Fábio Costa. A peleja teria ainda a inusitada confusão entre Diego Souza e Domingos, resultando na expulsão dos dois. O Santos foi à final, mas perdeu a decisão para o Corinthians.

Na última partida entre os dois, pelo Brasileiro de 2012, o Santos levou a melhor: 3 a 1, em noite de homenagem a Joelmir Beting.

Leia também:

Palmeiras X Santos – relembre cinco vitórias do Peixe fora de casa no “clássico da saudade”

3 Comentários

Arquivado em Ídolos, Década de 50, Década de 80, Década de 90, futebol, História, Santos, Século 21

O adeus a Chico Formiga, técnico dos primeiros “meninos da Vila”

Ontem, no dia 22 de maio, morreu em São Vicente uma das figuras mais importantes da história do Santos Futebol Clube. Francisco Ferreira de Aguiar, Chico Formiga, chegou do Cruzeiro, em 1950, com 19 anos, e participou da equipe base de 1955, que foi campeã depois de vinte anos sem conquistas. Formação que era música aos ouvidos santistas: Manga, Hélvio e Ivã; Ramiro, Formiga e Zito, Alfredo, Álvaro, Del Vecchio, Vasconcelos e Tite. Foi atleta do Peixe entre 1950 e 1056, e entre 1960 e 1963.

Lembro dele como técnico do time em 1983, quando o Peixe foi derrotado pelo Flamengo na final do Brasileiro. Mas aquele meio de campo com Dema, Lino, Paulo Isidoro e Pita marcaria a minha infância como um dos mais habilidosos que havia visto, daqueles que dava orgulho de torcer. Mas a história de Formiga como técnico peixeiro começa em uma época conturbada, quando o clube tentava se encontrar após o fim da Era Pelé.

Em seu Time dos Sonhos, Odir Cunha narra o que ficou conhecido como “Noite das Garrafadas” no Pacaembu, em 1978. O Santos enfrentou o Operário-MT e perdeu de virada. O resultado foi a revolta da torcida, que foi reprimida pela Polícia Militar, resultando em um saldo de dois santistas internados com traumatismo craniano. Formiga assistiu à partida das arquibancadas, enquanto seu auxiliar Mengálvio dirigia o time. Ali, em conjunto com Zito, então diretor, surgiu a decisão de apostar nos juvenis (ele havia treinado os meninos no Campeonato Paulista de Juniores), até porque os recursos eram escassos.

Formiga, mentor dos “meninos da Vila” de 1978

Foram promovidos garotos como Zé Carlos, Toninho Vieira e Pita, que se juntaram a atletas mais experientes como Clodoaldo e Aílton Lira. O “time que só sabia atacar”, como definia Formiga, venceu o forte São Paulo, campeão brasileiro de 1977, na final da competição (disputada em junho de 1979). Como em outras ocasiões, jogadores desacreditados ganharam um título, sob a batuta de alguém que acreditou neles. Aquela equipe ficou conhecida como a primeira geração dos “meninos da Vila”, fez oitenta gols naquele Paulista, e Juary foi o primeiro artilheiro santista pós-Era Pelé, com 29 tentos.

O treinador logo saiu, seduzido por uma quase irrecusável proposta financeira da Arábia Saudita. Voltaria para ser vice-campeão brasileiro em 1983, depois de ser campeão paulista pelo São Paulo em 1981. Mais tarde, tiraria o Corinthians de um penúltimo lugar no Estadual para ser vice-campeão em 1987. Contudo, um de seus grandes feitos viria em 1993, quando foi campeão mineiro comandando o América-MG e quebrando uma hegemonia de 21 anos da dupla Atlético-Cruzeiro. Lembro de uma entrevista com o treinador na Folha de S. Paulo, em que ele falava do seu grande sonho àquela altura: ser novamente técnico do Santos de seu coração.

Não conseguiu, mas colaborou com o clube como supervisor nas categorias de base, fazendo o que sempre soube fazer bem: descobrir e moldar talentos jovens. Pelo seu crivo passaram Robinho e, mais além, Neymar. Para sempre, ficará a gratidão do torcedor por quem tanto fez pelo time da Vila, dos mais diversos modos.

2 Comentários

Arquivado em Ídolos, Década de 50, Década de 60, Década de 80, futebol, História, Santos

Santos centenário: o time que até hoje faz sonhar

Falar dos cem anos do Santos atendo-se às glórias conquistadas pelo clube é um tarefa quase impossível. Não só pela quantidade e pelos números incríveis da equipe profissional que mais marcou gols na face da Terra, mas também pela forma com que muitos títulos foram conquistados. E também por aquelas equipes que não obtiveram títulos e mesmo assim fizeram história, como o time que marcou pela primeira vez cem gols no futebol brasileiro em uma competição. Cem gols em 16 partidas, uma média espetacular de 6,25 gols alcançada em 1927, oito anos antes do seu primeiro campeonato paulista. Na Vila Belmiro, sempre foi assim, a arte precede aos títulos.
Pelé e Clodoaldo: o futebol agradece ao Santos
Mas, além da história do clube, existe aquela relação única que cada torcedor constrói com seu time. A minha começou mesmo antes de eu nascer, quando o meu avô materno, nascido no Sul de Minas, mudou para o litoral paulista. E um dos motivos da mudança era o fato de ele ser torcedor… do Santos. Certamente foi a narração de pelejas épicas e repletas de gols que fez seo Benedito torcer para um time que, àquela altura, nunca havia sido campeão além dos domínios da Baixada. E que, mais tarde, graças ao futebol bem jogado, conquistaria outros tantos torcedores em todo o mundo, parando guerras e dando à seleção brasileira alguns dos jogadores responsáveis pela época de ouro do futebol brasileiro. Desde os protagonistas Zito e Pelé em 1958 até os atores principais do gol mais bonito de todas as Copas em 1970, que começou com os dribles desconcertantes do santista Clodoaldo, passou pela assistência perfeita de Pelé e culminou na finalização indefensável do peixeiro Carlos Alberto Torres.
Sim, porque, diferentemente de times que surgem em capitais de estado e tem somente que superar concorrentes da própria cidade para se sobressair, contando com o inevitável apoio econômico e político (de dentro e fora do mundo da bola), o Peixe – apelido dado pelos rivais justamente para menosprezar sua origem – teve que jogar muita bola para se tornar o que é. Foi preciso subverter a lógica dentro dos gramados, arrebatando pela beleza dos lances desenhados por artistas incomuns, para também subverter a lógica que o destinaria a ser um time pequeno. O Alvinegro tornou-se gigante não pela sua natureza, geográfica ou econômica, e sim por representar em campo a essência do jogo. 
A provação
Mas nem tudo foram flores nesses cem anos. Até porque, para uma trajetória vitoriosa, a derrota e o sofrimento são elementos que ajudam a formar o caráter, do torcedor e de um time. Desde a primeira vez que pisei na Vila Belmiro – levado pelo meu pai, aos sete anos de idade, em um Santos e Ponte Preta de 1982 –, até hoje, um período em particular foi terrível: a fila de 18 anos sem título. E para alguém que está em fase de crescimento em um período como esse, a crueldade do torcedor rival é muito mais marcante, porque se junta a todas as outras agruras de criança e de adolescente. Na Baixada, onde o Santos é o mais odiado pelos rivais, o peixeiro se tornava alvo de gozação a cada bate-papo de futebol. Quando o time perdia – para qualquer adversário – volta e meia escutavam-se rojões. Fora da região, a tarefa era suportar o desdém de muitos que fingiam que o time não existia ou que era “coisa de historiador”. Para o santista, a fila era mais que uma provação, pois havia o fardo da gloriosa história para carregar, que não se refletia nas quatro linhas.
Um personagem histórico, uma partida inesquecível
Não que não tenha havido chance de o clube sair da fila. Depois de algumas formações ridículas da segunda metade dos anos 80 e da primeira metade dos 90, o Santos se reergueu. E, por destino, foi pelos pés de um camisa dez. Não, de um camisa Dez, com caixa alta. Giovanni comandou uma equipe que tinha desde jogadores “renegados” como Marcos Adriano e Macedo, até jovens e não tão jovens esperanças como Narciso, Jamelli, Edinho, Wagner, Carlinhos, Marcelo Passos, Robert e a arma surpresa Camanducaia. O meia também foi protagonista de uma das maiores partidas da rica história alvinegra e que foi, seguramente, a maior atuação individual de um boleiro que vi ao vivo.
Mas não foi ali que saímos da fila. Deixei o Pacaembu triste naquela segunda partida da final do Brasileiro de 1995, mas mesmo assim fui saudar os vice-campeões na Praça Independência, em Santos. Alguns jogadores foram até lá prestigiar aquela torcida que considerava aqueles os verdadeiros campeões brasileiros. Mas fui ali não para lamentar a arbitragem, e sim para agradecer àqueles que tinham devolvido a autoestima ao santista, que fizeram daquelas lembranças gloriosas, que eu não tinha vivido, uma realidade. Uma realidade que não se fez presente pelo título, que ao final não veio, mas pela beleza, pelo futebol bem jogado que honrava a mística da camisa alvinegra que chegou a parecer perdida.
A beleza tinha voltado, mas a zombaria continuava. E não cessou com o título do Rio-São Paulo de 1997. Nem com a Copa Conmebol de 1998. Era preciso um título mais significativo. Um Paulista, que na época tinha mais charme que hoje, ou um Brasileiro… O Estadual quase veio após uma partida enfartante em que o Peixe virou contra o Palmeiras de Felipão nas semifinais, um épico 3 a 2 depois de estar perdendo por 2 a 0 até os 23 minutos do segundo tempo. Mas, na final, o time perdeu o título para o São Paulo.
No ano seguinte, nova decepção. Desta vez, com um gol de Ricardinho no último minuto da semifinal do Paulista. Ali, antes mesmo de o gol acontecer, um pressentimento me assaltava. Na outra partida da semifinal, Ponte Preta e Botafogo jogavam para saber quem seria o outro postulante ao título. Enquanto a Ponte era a finalista, para mim era lógico superar a tradicional equipe campineira e sair da fila contra ela. O Corinthians já tinha feito isso, o São Paulo já tinha a derrotado em outra final e o Palmeiras faria o mesmo sete anos depois. Mas quando o Botafogo garantiu sua ida à final, temi pelo pior. Faltavam cinco minutos para o jogo acabar. Para mim, era certo: o Santos não sairia da fila contra o time do interior. Uma fila de 17 anos não acaba assim. Aquela certeza tétrica me fez esperar pelo pior, que veio ao fim daqueles doídos 90 minutos. Decepção era pouco. Chovia na Baixada e naquele dia até os rivais guardaram os rojões em respeito à dor alheia. 
A redenção
Em 2002, o ano também não parecia promissor. A desclassificação do time comandado por Celso Roth obrigou o Santos a viver o maior período de inatividade de sua história. Veio Emerson Leão, treinador então desacreditado, e o elenco contava com outros atletas que não haviam emplacado, como Paulo Almeida, Elano, Renato… André Luís, zagueiro-vilão do Paulista de 2001, e dois moleques como Diego, que ainda era só uma promessa, e Robinho, que nem isso era. E o final, finalmente, foi feliz.
Não foi só um título. Não foi só uma quebra de jejum. Foi um futebol que na fase final mostrou a essência da história santista: era o encantamento, a arte, o arrebatamento. O favorito “Real Madrid do Morumbi” foi derrubado; o futebol-força gaúcho do artilheiro da competição sucumbiu; e os algozes do ano anterior caíram diante das pedaladas do menino Robinho, que ainda jogou ao chão outro marcador no segundo gol daquela final e chamou dois jogadores de seleção para dançar no terceiro. E eu, que imaginei aquele momento durante tanto tempo achando que iria me emocionar, chorar, simplesmente não conseguia parar de rir. Porque aquele era um futebol alegre de fato, do tipo que sempre fez o santista e o amante legítimo da bola sorrir. O gigante havia voltado.
A dupla que deu continuidade à lenda
E, desde então, o Santos tem mostrado sua grandeza quase a todo ano. Vice do Brasileiro e da Libertadores em 2003, campeão brasileiro em 2004, campeão paulista em 2006 e 2007 (ano em que foi vice do Brasileiro); vice paulista em 2009, campeão paulista de 2010 e 2011, da Copa do Brasil em 2010 e da Libertadores em 2011. Nos dois últimos anos, deu ao mundo lindos gols e belos lances com a dupla Neymar e Ganso, além dos coadjuvantes talentosos que cativaram não só os torcedores como todos aqueles que gostam do bom futebol. Um Neymar “imparável”, como definiu um locutor mexicano, assombrando não só pela sua habilidade, mas também pela decisão de remar contra a maré e permanecer no Brasil diante de toda sorte de investidas estrangeiras. E, quando a técnica não foi suficiente e as adversidades apareceram, a raça resolveu, como quando Ganso encarnou Almir Pernambuquinho na final do Paulista, contra o Santo André. Eram novos capítulos de uma história que começou a ser escrita naquele 14 de abril de 1912, e que faz parte da minha vida antes de eu existir. Que faz com que o torcedor tenha orgulho do seu clube até mesmo quando ele não vence ou ganha títulos.
E é no centenário, nessa efeméride única, que se lembra daquilo que se viu e do que apenas se ouviu ou leu. E que sempre fez sonhar. É tempo de recordar daqueles que me apresentaram ao futebol, do meu pai que me levou ao campo sagrado da Vila Belmiro pela primeira vez e que ainda hoje me acompanha nas sagradas arquibancadas. Do meu avô que não conheci e que deve estar lá, junto com meu primo Salvador, fanático peixeiro que levou a bandeira do clube para o Além, onde deve estar apreciando o balé boleiro de estrelas como Araken Patusca, Feitiço, Camarão, Antoninho, Jair Rosa Pinto, Mauro Ramos de Oliveira, Ramos Delgado, Pagão, Tite, Vasconcelos, Toninho Guerreiro, Luis Alonso Perez e tantos outros que fizeram não só o Santos, mas o futebol brasileiro, ser o que é.
Como bem disse Mario Sergio Cortella, seu papel de filósofo também se relaciona com o fato de ser torcedor do Santos. Porque filosofar é ir além do óbvio, de buscar o inesperado. E o Santos, durante esses cem anos, foi muito além do óbvio. Que siga assim por mais muitos centenários.
Outros tantos virão para ver…
Também publicado no Futepoca.

1 comentário

Arquivado em Ídolos, Década de 20, Década de 50, Década de 60, Década de 70, futebol, História, Santos

Há 45 anos o Santos era de novo dono da América

Há exatos 45 anos, em um dia 11 de setembro, o Santos tornava-se bicampeão da Libertadores da América. Uma conquista com sabor especial, já que foi conseguida em plena La Bombonera, sobre o Boca Juniors, com toda sorte de pressão sobre os atletas alvinegros. Foi, até o Fluminense desclassificar a equipe argentina nas semifinais da competição este ano, o único clube nacional a superar os xeneizes no torneio mais importante da América do Sul.

À época, participavam da Libertadores somente os campeões de oito países sul-americanos (Bolívia e Venezuela não tinham representantes). Como o Santos tinha sido campeão da edição anterior, tinha vaga garantida e entrava nas semifinais. Campeão da Taça Brasil em 1962, cedeu a vaga a que o país tinha direito para o Botafogo de Garrincha.

Dois grupos de três times e mais um de dois fizeram a primeira fase. Para as semis, passaram Boca, Botafogo e Peñarol. Uruguaios e argentinos fizeram duas partidas, com vitórias do Boca em Montevidéu (2 a 1) e em Buenos Aires (1 a 0). Pela primeira vez o Peñarol ficava de fora de uma final da competição, já que havia sido campeão em 1960 e 1961, e vice em 1962, sendo superado pelo Peixe.

O Santos enfrentou o Botafogo, e empatou em 1 a 1 o primeiro jogo disputado no Pacaembu, em São Paulo. Os cariocas contavam com um senhor esquadrão e jogadores da estirpe de um Nílton Santos, Garrincha, Quarentinha, Amarildo e Zagallo. Mas o Santos… era o Santos. Na Taça Brasil, o time peixeiro tinha vencido os cariocas por 4 a 2 no Pacaembu e perdido por 3 a 1 no Maracanã. No jogo desempate, um massacre que a imprensa carioca classificou como a maior exibição de uma equipe de futebol até então no mítico Maraca. Com dois gols de Pelé, outros três de Dorval, Coutinho e Pepe, o 5 a 0 calou fundo na alma da equipe que pretendia ser a melhor do país.

Na Libertadores, os botafoguenses queriam vingança. Na primeira partida, 1 a 1 renhido, com o Peixe desfalcado de Pepe e Mengálvio. O ponta voltaria na partida de volta no Maracanã onde de novo o Santos conseguiria impor seu futebol. Outra goleada, 4 a 0, com três gols de Pelé e um de Lima.

Contra o Boca, a parada seria dura. Mas até não parecia depois do fim do primeiro tempo no Maracanã. O Santos vencia por 3 a 0, dois gols de Coutinho e um de Lima. Mas a equipe quis administrar e sofreu dois gols na segunda etapa. A propósito, o jornalista argentino Bernardo Neustadt faz aqui uma crônica/análise interessante daquele jogo, que ele acompanhou in loco. A tática do Boca no primeiro tempo era não fazer marcação individual em Pelé, mas sim anular seus “alimentadores”, principalmente Coutinho e o jovem coringa Lima, de 18 anos, que o jornalista diz que “atua no meio de campo como se tivesse nascido ali”. A avaliação dele era que os argentinos não tinham agredido suficientemente o Peixe, deixando não apenas Lima, mas Zito avançar e criar. De fato, era difícil parar o Alvinegro…

A decisão no La Bombonera prometia. Foram 50 mil argentinos até o estádio que tinha um campo com dimensões menores do que a Vila Belmiro. O Boca pressionou desde o início, abusando da violência para deter o forte ataque alvinegro, como se pode ver no vídeo acima em algumas jogadas envolvendo Pelé. O dez santista, aliás, foi saudado com  um coro ofensivo e de cunho racista que dizia “Pelé, hijo de puta, macaquito de Brasi”. Como não havia cartão amarelo e vermelho (a expulsão era feita de forma direta), os brasileiros sofriam para jogar.

A um minuto da segunda etapa, Sanfilippo marcou o gol xeneize. Uma explosão no estádio e parecia que o Santos iria sucumbir. Mas, apenas quatro minutos depois, Coutinho empatou, após uma falha na reposição de bola de Errea e uma troca rápida de passes entre Dorval, Pelé e o centroavante. Mais pressão portenha até a bola chegar em Pelé. Ele driblou o brasileiro Orlando Peçanha e finalizou de biquinho no canto direito, aos 37 minutos. O Alvinegro calava o estádio e sagrava-se bicampeão da Libertadores.

Segundo Odir Cunha no livro Time dos Sonhos, que nutriu boa parte desse texto, o jornal  O Estado de S.Paulo apontou dois pênaltis de Rattin não marcados pelo árbitro: um em uma entrada maldosa em Pelé e outro quando tirou a bola com a mão que sobraria para Coutinho. Ainda assim, o Santos foi maior. E, de novo, fazia história.

11 de setembro de 1963

Boca Juniors 1 X 2 Santos

Boca Juniors – Errea; Magdalena, Orlando e Simeone; Silveira e Rattin; Grillo, Rojas, Menéndez, Sanfilippo e González. Técnico: Aristóbulo Deambrosi.

Santos – Gilmar; Mauro, Calvet e Dalmo; Zito e Geraldino; Dorval, Lima, Coutinho, Pelé e Pepe. Técnico: Lula.

Gols: Sanfilippo, aos  46; Coutinho, aos  50; Pelé, aos  82.

Público: 50.000.

Árbitro: Marcel Albert Bois.

1 comentário

Arquivado em Década de 60, futebol, História, Santos